“Ela, o príncipe e o amor”

Todo o dia ela atravessa aquela avenida. Nada mais comum. Minutos esperando, alguns segundos e passos caminhados. Pronto! Ela já estava do outro lado da avenida. Seguia para sua casa. Se tudo corresse como sempre em meia-hora estaria calçando seus chinelos e colocando mais ração na vasilha do gatinho. Na hora exata estava em casa e colocando seus chinelos e adorando a atenção interesseira do seu gatinho. IF you could read my mind love ...Há meu amor se você pudesse ler minha mente nesse momento...Como feliz eu estaria! Pensava ela enquanto passava o sabonete pelo corpo. Como se fazer visível a aqueles olhos que sempre negavam a sua presença? Era inútil sequer pensar em qualquer aproximação. Mas, de onde vinha toda essa incredulidade? Do medo? Talvez! Mais definitivamente não tinha motivos. Ela guarda para si um amor que mesmo antes de entrar de corpo e alma na batalha, já tinha dado seu último suspiro. IF you could read my mind love, what a tale thoughts could tell? Contariam que ela era uma medrosa e certamente ele riria dela. Como sempre fazem. Será mesmo que seus pensamentos eram tão tolos assim? Para ele sim! Sua cabeça fervia. Ensaiava frases na frente do espelho, inventava novos penteados, testava novas maquiagens. Colocava a lente de contato que ganhou de uma amiga e que não usava. Apreciava o seu corpo, achava-o bonito, atraente. Estava certa que poderia ter aquele amor se quisesse e depois além de ser uma linda mulher, ela era inteligente, sabia contar piadas e adorava futebol. Só não sabia direito o que era impedimento, mas, isso ele poderia lhe explicar. Sussurrando no seu ouvido... Dois times correndo atrás de uma bola e ele lá pausadamente lhe declamando as regras do futebol. Seria um sonho! Mais na cabeça dela era sim como um sonho malvado que só servia para ela se sentir triste quando acordava. Desfez o penteado, tirou bruscamente o batom e já não era uma linda mulher. Era uma maldita e infeliz mulher! Vestiu uma blusa dessas de campanha eleitoral e foi dormir desiludida.

Acordou atrasada. Correu e conseguiu chegar minutos depois do começo da aula. O desejo hoje estava ali ao seu lado. O que terá acontecido para ele sentar na frente? Sempre se senta ao lado da namorada. Ah, a namorada estava séria, com cara de poucos amigos. Só podiam Ter brigado! Seus diabinhos faziam festa, pulavam e diziam que essa era sua chance. Onde havia se enfiado a linda mulher de ontem à noite? Dentro da daquela camisa horrível que ela estava vestida. Só podia. Ela olhava para as fórmulas distraída e quase esqueceu que o seu Oasis estava do seu lado. Mais um toque gelado com a ponta dos dedos lhe fez lembrar imediatamente.

- Aula chata essa não é?

- Sim, eu acho! Pode ser! – Gaguejou

Ele apenas riu.

Ele tinha lhe dirigido a palavra! Os seus olhos tinham cruzado com os dela. Ela tinha tido sua atenção. Que mundo maravilhoso! Que vida linda essa dela! As palavras dele ressoavam nos seus ouvidos. Era a melodia mais linda que poderia existir no mundo.

- Posso sentar? – Era ele.

- Sim, claro.

- Você gosta de ler não é?

- Os livros são meus amigos. Me libertam para outro mundo. Me fazem rir e ás vezes chorar. E até me decepcionam.

- O último livro que eu li... Foi aquele que o professor Vagner mandou a gente ler... Era tão chato que nem o nome eu lembro. Adorei conversar com você. Agora deixa eu ir. A galera do futebol está me esperando... Artilheiro é outra coisa!

O livro que o lindo rapaz aculturado leu foi Fernando Sabino “O encontro marcado” o livro preferido dela. Ela se via na ânsia de viver do Eduardo. Nos medos de Hugo e na frente do espelho como as certezas de Mauro.

A primeira aproximação tinha sido feita e ela nada tinha movido para que isso acontecesse. Estava tudo correndo normal. Do jeito que ela queria que as coisas caminhassem. O seu amor estava vindo por vontade própria. E aos poucos foi se criando uma amizade recíproca. Ela o ajudava com os problemas da escola e ele tentava fazer entrar na cabeça dela as regras do impedimento. Como estavam doces as suas tardes, cor de rosa sua vida. Que prazer em entrar na sala e está lá ele com um sorriso grande no rosto tirando um livro de cima da carteira que guardou para ela.

O ano foi passando e tudo foi ficando mais forte. A amizade entre eles estava transcendendo toda a paixão que ela rogava a ele. Ele tinha defeitos! E como tinha! Era o cara mais normal da face da terra. Como príncipe encantado ele era um ótimo amigo. E até era bom como cúpido. Foi ele que lhe apresentou seu namorado. Seu amor real. E até hoje são grande amigos

Diana Sad
Enviado por Diana Sad em 16/12/2008
Código do texto: T1338209
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