A Fazendona
Já corri de vaca brava, já passei por baixo de cerca de arame farpado muitas e muitas vezes. Cresci com medo de vaca, de boi, de garrote e, talvez até de bezerro. Dou voltas e mais voltas para não passar nem perto. O medo que eu tinha se revelava de dia e, à noite, meus sonhos eram mais parecidos com pesadelo, pois eu chegava a ganhar chifradas tão doídas que me acordavam.
Será que hoje elas se amansaram um pouco? Testar é que eu não vou!
De todas as vacas, porém uma ficou na história. E até o nome dela guardei: Fazendona.
Tinha uma cor meio bege e possuía uma particularidade que a diferenciava de todas que já vi: seus chifres eram na horizontal.
A vaquinha era tinhosa. De longe quando nos avistava, batia as patas no chão e depois disparava em nossa direção.
Ela não se conformava quando éramos protegidos pela cerca de arame. Ficava nos olhando e bufando.
De vez em quando acontecia na cidade a tal de tourada. A Fazendona era estrela de primeira grandeza. Tio Vicente, às vezes, recebia o pagamento pelo empréstimo em ingressos que ele distribuía para os familiares e amigos.
Uma vez nós fomos todos e ficamos sentados nas arquibancadas. Eu, com cinco anos, não fazia a mínima idéia do que iria acontecer.
E quando começou na arena aquele corre-corre das vacas atrás dos toureiros para mim foi um martírio. Um rapaz apelidado de Cabecinha foi muito esperto e por pouco a Fazendona lhe prega uma chifrada. Ele apavorou e se aquietou na arquibancada.
Tourada? Nunca mais!
Fazendona ficou para mim como o símbolo da vaca brava.