A Fazendona

Já corri de vaca brava, já passei por baixo de cerca de arame farpado muitas e muitas vezes. Cresci com medo de vaca, de boi, de garrote e, talvez até de bezerro. Dou voltas e mais voltas para não passar nem perto. O medo que eu tinha se revelava de dia e, à noite, meus sonhos eram mais parecidos com pesadelo, pois eu chegava a ganhar chifradas tão doídas que me acordavam.

Será que hoje elas se amansaram um pouco? Testar é que eu não vou!

De todas as vacas, porém uma ficou na história. E até o nome dela guardei: Fazendona.

Tinha uma cor meio bege e possuía uma particularidade que a diferenciava de todas que já vi: seus chifres eram na horizontal.

A vaquinha era tinhosa. De longe quando nos avistava, batia as patas no chão e depois disparava em nossa direção.

Ela não se conformava quando éramos protegidos pela cerca de arame. Ficava nos olhando e bufando.

De vez em quando acontecia na cidade a tal de tourada. A Fazendona era estrela de primeira grandeza. Tio Vicente, às vezes, recebia o pagamento pelo empréstimo em ingressos que ele distribuía para os familiares e amigos.

Uma vez nós fomos todos e ficamos sentados nas arquibancadas. Eu, com cinco anos, não fazia a mínima idéia do que iria acontecer.

E quando começou na arena aquele corre-corre das vacas atrás dos toureiros para mim foi um martírio. Um rapaz apelidado de Cabecinha foi muito esperto e por pouco a Fazendona lhe prega uma chifrada. Ele apavorou e se aquietou na arquibancada.

Tourada? Nunca mais!

Fazendona ficou para mim como o símbolo da vaca brava.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 04/04/2006
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