Época da lamparina

Por que será que Lavínia não gostava, quando as jabuticabeiras enchiam-se daquela frutinha preta tão gostosinha? Eu amaria ter um quintal enorme com várias árvores frutíferas, de preferência do “pé de fruta”, como diziam os antigos.

Mas, com Lavínia era diferente. Ela se aborrecia e talvez até com uma certa razão. Seu quintal era de fácil acesso para qualquer transeunte, que, transgredindo as regras da educação, do respeito à propriedade alheia e de outras leis municipais, estaduais, federais, além das naturais, ali visitavam, sem qualquer consentimento prévio da dona da casa.

Certa ocasião, Lavínia já havia acendido a lamparina, pois o sol já se escondera, e dava os toques finais para se recolher, quando ouviu vozes vindas do quintal:

-Será possível? Esses moleques não me dão sossego.

De posse da lamparina, rapidamente, vai ela fazer a checagem. Será que não fora engano seu? O silêncio profundo só era quebrado pelo pio de alguma ave noturna.

Lavínia quis certificar-se melhor para não ter que voltar para espantar os intrusos. Foi, então, conferindo pé por pé de jabuticaba. Chegava por baixo e iluminava todo aquele emaranhado dos galhos. Ela não chegou a conferir nem quatro. No terceiro, ao chegar com a lamparina, foi colhida por uma rajada de urina e aquele pavio da lamparina, molhado, sem fogo ficou.

Nessa hora, o melhor é sair em disparada!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 04/04/2006
Reeditado em 04/04/2006
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