Zezé e Elias

José Antônio e Elias, os filhos mais velhos de Tia Raquel, irmã de minha mãe, e de Tio Antônio Cornélio, trabalhavam duro na roça sob os olhares nada complacentes do pai. Levavam vida difícil. O dia todo na lavoura, capinando e cuidando dos bois para o arado.

Era remota a oportunidade de estudar em escolas. Sabiam ler, escrever e fazer alguns cálculos “de mais e de menos”, porque na fazenda morava a professora particular, contratada para ensinar rudimentos aos meninos.

Um dia, na lavoura, um dos bois atolou. Quando Zezé e Elias se puseram a acudi-lo, o que conseguiram foi destroncar o pescoço do animal. O pai enérgico logo avisou que em casa fariam o acerto. Embora homens feitos, conservavam um medo tremendo das surras do Cornélio. Assim, em poucos minutos, bolaram um plano de fuga e o colocaram em ação, num pequeno descuido do “chefe”.

Saíram pelo mundo como caroneiros. Uma mão na frente e outra atrás. Cara e coragem. A casualidade das caronas e o destino os levaram ao sul do Brasil. Muito tempo passaram sem dar notícias. Lá arranjaram trabalho também pesado e perigoso como tratoristas. Passaram enormes dificuldades, em terra estranha, costumes diferentes. Depois de certo tempo, ajeitaram-se e melhoraram de vida.

O mais velho casou-se no Paraná com Nila, filha de italianos. Arranjou emprego na Hidroelétrica de “Obras Peixoto”. Contudo o trabalho o desgastava. E Zezé não via aquilo como definitivo em sua vida. Portanto resolveu tentar a sorte, aqui mesmo, em Divinópolis. O bom filho à terra natal tornou. Como caminhoneiro, trabalhador, honesto, marido amoroso, ótimo pai, conseguiu dar conforto à família.

Às vésperas da comemoração das bodas de ouro, ele e a esposa, num fatal acidente de carro, acabaram realizando a viagem sem volta.

O segundo, Elias, literalmente, sonhou mais alto. Queria porque queria ser piloto por esse céu de meu Deus. Mesmo apanhando um pouco, venceu dificuldades, estudou, aprendeu inglês e, por fim, tornou-se piloto comercial, realizando o sonho que perseguiu de unhas e dentes. Chegou a comandante em vôos internacionais. Fixou residência em Orlando. De vez em quando, sempre prosa e sorridente, retorna ao Brasil, para rever a paisagem, parentes e amigos.

Registro aqui a sincera admiração pelo esforço de Elias ao dar um salto tão grande: da roça para as alturas! O mesmo posso dizer de Zezé, que, com a esposa, nos olha lá de cima, felizes ambos, nas mãos de Deus.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 01/04/2006
Reeditado em 28/08/2011
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