Férias na Casa da Avó

Férias na Casa da Avó

Nas férias, minha mãe consentia que passássemos uns três dias na casa de nossa avó. Iamos a pé: Luzia, Teresinha, Nonô, Matias e eu. Lá nos esperavam Carlos e Clarice, filhos do Tio Vicente e da Tia Rosa. Uma festa esse encontro de primos, cujas idades variavam de nove a treze anos. O dia ficava pequeno para tantas brincadeiras. Andávamos no meio do mato, subíamos nas árvores, brincávamos nos córregos... Certa feita, escondidos da avó, fomos brincar no Itapecerica, que banhava os fundos do quintal. Em determinado lugar, o rio apresentava grandes pedras pretas que pulamos uma a uma, até chegar à pequena ilha. Uns davam a mão aos outros e grande era o perigo, pois as pedras estavam cobertas de lodo, uma escorregadela botaria tudo a perder. A cumplicidade da excursão à ilha ficou em segredo.

Meu avô possuía algumas vacas muito bravas. Algumas vezes tivemos que correr delas e escapulir por debaixo da cerca de arame farpado. E tudo representava uma fascinante aventura.

A cozinha ocupava um plano mais baixo que o resto da casa e havia uma escada de madeira, com uns oito degraus, guarnecida por um estreito corrimão, pelo qual descíamos, sem medo do tombo. Cuidávamos em verificar se a avó não estava por perto, senão, pito na certa.

A despensa com seu cheiro arrebatador atraía muito nossa atenção, sempre fechada por causa dos gatos. Quando nossa avó ia tratar das galinhas, entrávamos lá, com a rapidez de uma flecha, e víamos tanta coisa boa: pencas enormes de banana amadurecendo, dependuradas no teto, queijos, latas de doce, roscas e biscoitos, linguiça e não sei mais o quê! Surrupiávamos alguma coisa, morrendo de medo de sermos flagrados.

Às vezes, visitávamos os caseiros. Duas famílias diferentes, com um ponto em comum: eram pessoas muito simples, que traziam limpas suas casas pequeninas e pobres, feitas de pau-a-pique, de apenas duas portas, a da sala e a da cozinha. Chamavam-nos a atenção as camas feitas de quatro forquilhas, fincadas diretamente no chão batido. E eles estavam sempre alegres! Sentávamos no quintal e aquela gente acolhedora trazia peneiras grandes com pipocas e um café tão ralinho que mais parecia chá. Para nós, um manjar!

Hora de dormir. Os colchões eram recheados de palha de milho que tínhamos que ajeitar para que se espalhassem de maneira uniforme. O macio travesseiro de paina soltava as sementinhas

Dias de festa, as pequenas férias na casa da vovó. Hoje as lembranças nos trazem grande saudade.

Publicada no Jornal Agora de 1º de agosto de 2010.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 31/03/2006
Reeditado em 13/08/2010
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