ATÉ O PRÓXIMO DESENCONTRO
Fátima Irene Pinto
Quem de nós já não levou um fora ao menos uma vez na vida?
Eu posso falar de cátedra, pois o tanto de foras que eu já levei está na mesma proporção da minha impetuosidade. Mas não me arrependo e nem mudaria o meu jeito de ser.
Tenho muitas histórias de amor pra contar e, a bem da verdade, não sei viver sem amar.
Dar certo ou dar com os burros n'água é só um detalhe (faça de conta que você engoliu esta gororoba). O importante é viver, amar e ter muito o que contar (de novo, bote as mãos nos olhos e faça de conta que acreditou).
Se eu olhar na estante do meu coração, deparo-me com troféus incontáveis:
troféus de esperança, troféus de desencontros, troféus de Platão, troféus memoráveis e até de latão. Troféus de enganos a perder de vista!
Mas o local do troféu de frente, onde deveria estar o "deu certo e viveram felizes para sempre" ainda continua vago lá na estante.
Até já me preparei psicologicamente para passar desta para outra carregando esta estante meio "banguela" no alinhamento.
Mas a Chefia lá em cima não poderá me acusar de falta de empenho da minha parte.
Poderá, sim, questionar os meus métodos, ao que eu prontamente responderei:
- Eu obedeci totalmente a programação que me foi dada. Se havia outro jeito de lidar com a coisa, esqueceram de embutir nos meus neurônios ou então me deram um coração com defeito no sensor.
Sabem aquela música que diz: quem eu quero não me quer/ quem me quer mandei embora?
Ou aquela: eu não sei porque é que a gente/ gosta tanto de repente/ de quem não gosta da gente. Ah! Tem ainda uma outra: quem sou eu/ pra ter direitos exclusivos sobre ele ....
Pois é! Esta é a falha no sensor, e não há técnico que seja capaz de dar jeito nisto.
Mas como na natureza tudo se compensa e se equilibra, posso sem dúvida alguma, falar dos troféus que fui ganhando paralelamente e nos quais tornei-me especialista: troféus de amizade. Coleciono amizades por toda uma vida e quase todas elas começaram com um tórrido amor. Viro amiga, conselheira, confidente. Sei que posso contar com eles, assim como eles sempre contam comigo, mas é a mais profunda e incondicional amizade.
E por conta deste meu padrão, desta Vênus eternamente encarcerada e deste coração com defeito no sensor, virei poeta. A poesia é o amor sublimado que jorra substancialmente do meu coração, feito uma nascente perene!
E a julgar pelo tanto de poetas que encontro por este mundo a fora, concluo que os corações com defeitos no sensor (iguais ao meu) são milhares, afinal, quem está amando e sendo amado(a) não tem tempo, nem vontade, nem inspiração para fazer poesias de amor.
Sigamos em frente até o próximo desencontro.
Vai que de repente acontece um milagre, um ajuste automático no sensor, o troféu em falta lá na minha estante...
Então quem sabe eu deixe de ser poeta para viver o amor tão decantado na poesia.
Na pior das hipóteses, curtirei mais tres meses de fossa.
Na melhor delas, ganharei mais um amigo.