UMA ENTREVISTA DESCONCERTANTE

Ansiosos, os jovens universitários iniciam a esperada entrevista que foram fazer a um escritor. Ansiosos sim, mas já sofreram ligeiro baque ao perceberem que a casa daquele homem tão pesquisado em suas últimas aulas de literatura leva uma vida bastante modesta: Mora num cafofo com telhas de amianto, fincado em terreno arenoso de área rural no qual cultiva batata doce, tomate, pimenta e caju para consumo próprio.

Logo ficam sabendo que o escritor não dispõe de internet, não tem tevê digital, telefone fixo, conta bancária e cartão de crédito. Áh, e também estranham que não use óculos o tempo inteiro nem camisa social de mangas dobradas. Sequer fama ele conquistou, apesar de ser cultuado pelo velho professor que o tem como um dos grandes poetas e prosadores brasileiros da atualidade. Possivelmente exagero de um velho mestre caduco.

A entrevista, entretanto, vale pontos para os exames finais. Resta aos estudantes a esperança de pescar narrações de aventuras, vitórias e conquistas literárias do entrevistado. Não é possível que não os tenha, pensam os moços, não dando qualquer importância para a possível qualidade dos textos daquele a quem foram entrevistar tão somente por ser um fazedor de textos.

-O senhor já recebeu muitas homenagens, imaginamos...

-Nenhuma.

-Tem quantas medalhas, senhor?

-Nenhuma.

-Quantos troféus?

-Nenhum.

-Não vemos nas paredes nenhum certificado de participação em eventos literários; uma menção honrosa ou algo parecido. O senhor não acha importante expô-los?

-Na verdade não os tenho também. Não participo de pelejas literárias.

-Mas o senhor não tem nem mesmo uma... (?)

-Um momento, rapazes. Creio que posso ajudá-los a fazer um trabalho mais notório, indicando outra pessoa.

-...

Um velho general. Tem medalhas e comendas por toda a farda que jamais tira. Em cada peça, uma história de bravura. É uma figura legendária. Um herói de guerra.