HÁ VIDAS, MAS JÁ NÃO AS VIVEM
Nas minhas caminhadas de finais de semana, costumeiras a mais de dez anos, passei a observar a vida no que posso, e, tudo aquilo que me prende mais a atenção. Vejo os jovens e todo o seu esplendor, desde a sua beleza física a sua afoiteza, que nos imbui de uma emoção contagiante. Contemplo com o mesmo interesse o adulto, mais recatado, menos afoito, porém, com seus primores advindos do acumulo de experiências, não importando se boas, ou nem sempre tão boas, mas os anos de certa forma contam com essa bagagem, ou não contam? Bem, não estou aqui para diagnosticar o que é bom ou ruim no trajeto de vida de qualquer pessoa, mesmo porque cada um tem o seu diferencial, ou seja, “cada um com o seu cada um”.
Um fato, porém, tem me chamado a atenção cada vez mais, a falta de vida na face dos idosos, que ao lado de seus acompanhantes, ou em suas cadeiras de rodas, sempre acompanhados, não demonstram transmitir nenhum prazer, nenhuma emoção, que possa ser absorvido por quem os espreite. Esses carregam em suas faces, a aridez de um tempo que passou, e, com este também foi o viço de uma vida. Surpreende-me de certa forma, por ver que esses idosos, estão a passear, num dos lugares mais bonitos da terra, a orla de Copacabana, assim como na margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Aparentemente não são pessoas doentes, são sim pessoas portadoras de deficiências motoras, observa-se que todas são muito bem cuidadas, todavia não preservam o prazer da vida, do viver e poder ver as belezas que se delineiam ao seu redor. É como se nada de bom lhes houvessem sobrado, da euforia que exteriorizamos ao curtir a limpidez em um dia de sol neste lugar de belezas sem iguais.
Então eu me pergunto: qual o significado de ter a vida e não vivê-la? De ter os olhos e não poder ver? De ter os lábios e não poder usá-los num sorriso?
Outro dia segui um idoso e sua acompanhante, como mais um dos muitos que acompanham sem perceber esse feito; mas que na realidade havia o propósito de minha parte em acompanhá-los e pude notar a pessoa que empurrava a cadeira, conversava e interrogava o idoso, sem que este, lhe contra argumentasse qualquer das tentativas que lhe fora feito. Pensei comigo mesmo, este senhor não deve falar, não entendo porque a acompanhante lhe fale tanto. Porém logo a seguir, sem reação de aprovação ou reprovação da conversa individualizada, ele falou: quero voltar para casa. E pensei mais uma vez em voz alta: ele fala!
Não acredito que a idade avançada, leve o homem a desconsiderar o belo, o prazer pela beleza estar dentro de cada um de nós, logo o desprezo por esta, significa que a alma desse corpo começa a desfalecer. Mas será que nesse período da vida, ao vislumbrarmos a aproximação da beleza eterna, nesse afastamento obrigatório da vida terrena, para a outra além morte, perdemos o prazer da felicidade? Não seria ao contrário? Boas perguntas que não encontrarão respostas jamais. Entretanto podem-se minorar essas dúvidas, quando acumulamos resultados positivos, dos nossos feitos, no decorrer da nossa história. Acredito muito no velho adágio, “colhemos sempre do que plantamos”.
Esse é o período em que deverias usufruir o que de melhor acumulastes em tua trajetória de vida: o carinho que dispensastes aos outros, a bondade que praticastes, a força que destes a outrem, a felicidade que fizestes alguém sentir, as histórias que contastes as crianças, a ajuda que prestastes entre tantas outras coisas boas que por certo realizastes; então esta é a hora de sorrir e deixar fluir um aspecto de doçura em tua face, por tudo que pudestes fazer; embora achando que muito mais deverias ter feito; mas vale apenas sorrir pelo que conseguistes, sorria por acreditar no dever cumprido.
O prazer de conduzir a vida deve e pode ser dado ao corpo que carregamos através das nossas almas, desde os tempos de crianças, passando pela adolescência, pela idade adulta, chegando a melhor idade, ou seja, a velhice, com prazer, dignidade, muito amor e felicidade. Estas sim, poderão transformar a vida do ser humano em um paraíso eterno e razões para ver sempre o que é belo e sorrir mais ainda, almejando um futuro que aprendemos desde muito cedo a chamá-lo de “felicidade eterna”.
Rio, 21 de novembro de 2008
Feitosa dos santos