O COMPUTADOR E EU

Bom, quando escrevi originalmente esta crônica, em 2008, meu tio Fábio, de 97 anos hoje, ainda não havia ingressado no Facebook, onde escreve lindos poemas. Este fato poderia diminuir o alcance e sentido do texto, mas creio que lhe empresta maior dimensão. Mas, enfim, vamos lá. Foi lá pelos 53 anos que um computador apareceu na minha mesa de trabalho na Instituição onde exercia meu labor jurídico. Demorei muito para ativar aquela geringonça, quase um ano. Aprendi o que era “e-mail”, mas o assunto não me emocionou, a minha mídia era outra. Continuei a redigir meus manuscritos com a maior naturalidade, visto que ainda dispúnhamos de algumas boas datilógrafas, talvez graças a mim e a mais dois ou três dinossauros. Os colegas, bem mais jovens, deleitavam-se no tal de “Word”, que me parecia insosso e complicado, afinal, o computador, para mim, não passava de simples máquina de datilografar sofisticada com uma telinha mixuruca e brilhosa. Meu primeiro livro de crônicas, escrito em 1997 e primórdios de 1998, foi feito inteiramente a mão; depois, minha sobrinha digitava os textos no seu computador. Bem trabalhoso. Um belo dia, resolvi derrubar tabus e mergulhar fundo na modernidade. Aliás, modernidade superada, pois os colegas já contavam com aparelhos mais atualizados. Pedi ligeiras explicações e comecei a brincar com o trambolho: confesso que não achei os e-mails nada divertidos, até por que havia centenas deles (burocráticos) acumulados e também pelo fato de que eu não tinha nenhum destinatário interessante. Já com o Word, a coisa foi mais estimulante, pois descobri facilidades para esculpir textos e outras diabruras. Não foi tão sacrificante pensar dedilhando o teclado, afinal, eu era datilógrafo. A melhor parte, no entanto, foi explorar endereços eletrônicos e acessar muitos sites, especialmente jornais de outros estados e do exterior, à época de livre frequência dentro da organização. Quando descobri sites de relacionamento e dialoguei com o mundo, acabei convencido de que, embora tardiamente, era do ramo. Em dezembro dos meus 55 anos, dei-me um bom PC de presente e passei a navegar pelo oceano infinito que se abria a cada movimento do mouse, feito um Cristóvão Colombo insaciável e fantasmagórico a assombrar continentes virtuais. O tal de Orkut, ainda de propriedade do turco, era novidade, em inglês, com poucos meses de vida, e não demorei a enfrentá-lo, decifrando seus enigmas. O site era um barato, dinâmico, desafiador e positivamente interativo. Um grande salto para quem se criou na pré-história das cartas, fonogramas ou telegramas. Enfim, tudo muda. Tanto que meu segundo livro de 2005 escrevi diretamente na telinha e os contatos com o editor foram por e-mail, eventualmente por telefone celular, outra grande novidade que me chegou em 94/95 e a que também custei a aderir completamente. Só conheci pessoalmente esse editor quando tive de apanhar os livros físicos para o lançamento. Atualmente, prefiro escrever e publicar via internet, sem interesse em lançamento de livro material, físico, tal a dificuldade para editá-lo, divulgá-lo, distribuí-lo e vendê-lo num mercado pouco comprador para os escritores amadores e não midiáticos. No espaço da internet, há uma ótima interação, que jamais encontrei no mercado tradicional, comandado pela mídia "chapa branca".

A moral da história não é aquela de que “nunca é tarde para começar”, mas a de que, mesmo depois dos setenta e tantos anos, quem sabe mais de oitenta, é possível estar conectado, atuando na área, com a musculatura virtual dos vinte anos, visitando amigos em qualquer parte do mundo e comentando abertamente a miséria, a grandeza e a estupidez dos homens, dentre outros assuntos que nos perseguem diariamente. Só não consegui avançar no celular com internet, inclusive com o tal de Whats. Meus dedos têm vida própria e não costumo andar de óculos. Sou 30% dinossauro, mais do que bom, não insistam.

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 20/11/2008
Reeditado em 05/02/2022
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