O Porão de Minha Casa - Primeiro ato

Às vezes me pego voltando ao passado, mas a um passado bem distante, quando tinha apenas uns três anos. Volto àquele mundinho de criança que é pequeno, mágico e doce, talvez um refúgio de nossa inconsciência que quisesse ficar definitivamente por lá. Muitas imagens permanecem congeladas na memória, permeada dos sonhos que sempre as emolduravam. Sonhos...fantasias, imaginações, visões. E como estivesse lendo eternamente um livro predileto com uma página sem letras, mas com uma bela figura pintada em cores bem fortes.

Nessa época, morávamos na Rua Rio Grande do Sul. A casa passou por umas reformas, mas conserva o mesmo estilo de construção. Sempre que por ali passo, bate-me aquela saudade da doce infância, quando meu mundo se resumia a “poucas coisas”: quintal grande, casa acolhedora e a proteção de meus pais.

Havia um cômodo na casa que eu não me lembro de ter entrado uma única vez. Era um porão que eu achava muito escuro. Eu via meu pai entrar e desaparecer naquele breu. “Que coragem!”, eu pensava. Ficava, com medo, de longe olhando e esperando pela volta dele. Ficava feliz, quando ele aparecia. Quase sempre trazia alguma coisa que ali guardava:. ora uma ferramenta, ora um pedaço de madeira.

Eu ouvia dizer que alguns morcegos moravam naquele cômodo. Era um lugar misterioso e tenebroso para uma menina tão pequena.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 27/03/2006
Reeditado em 27/03/2006
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