Adeus, bonequinha!

(Para bandyda)

Hoje, as crianças possuem muitos e variados brinquedos, mesmo as de famílias com menor poder aquisitivo.

Em épocas passadas, sem precisar ir muito longe, bonecas, carrinhos, bolas e velocípedes eram artigos de luxo. E nem por isso os “pobres pequenos” eram infelizes.

Criatividade é qualidade muito desenvolvida em todas as crianças. Elas davam seu jeito e fabricavam seus brinquedos. E os meninos também.

Velhos panos enrolados eram “lindas filhinhas”. Espigas de milho, com aqueles “cabelos loiros”, eram bonecas de luxo! Folhinhas, pedrinhas eram deliciosas comidinhas. Andar em cima de latas amarradas num cordão dependia de muito treino para não cair, mas era uma ótima aventura. E usar pernas de pau, então, que emoção!

Mas devido ao instinto maternal, a boneca sempre foi a campeã de nossos brinquedos. Como não havia plástico, elas eram fabricadas com massa de papel, pintadas de cor-de-rosa e o vestido era de papel crepom. E elas eram alérgicas à umidade. E quando ficavam sujas, e vinha a tentação de dar nelas um banho, aí era o fim.

Quando tinha quatro aninhos, ganhei uma boneca de celulose, que me foi dada por minha madrinha Alice. Como era ainda bem pequena e não tinha os devidos cuidados, eu só podia brincar com a boneca, em ocasiões especiais, como por exemplo, num dia em que estava febril e desanimada. Ficava abraçada com a bonequinha, prostrada numa cama. Á tarde, ao dar uma voltinha pela casa, esqueci a boneca no jirau, que ficava logo na porta da cozinha. Deitei logo em seguida e acabei adormecendo. Só no outro dia saí à procura de minha boneca. Foi para mim uma grande decepção quando a vi. Havia chovido à noite e ela toda ensopada, inchou-se e se desfez em minhas mãos. Fiquei assim, sem gracinha, com vontade de chorar... e, no peito, ficou a saudade.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 25/03/2006
Reeditado em 08/04/2006
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