A FEIRA DO LIVRO

A Feira do Livro faz parte da história e da cultura de Porto Alegre e do próprio país. É acontecimento importante, com espaços a cada ano mais virtuosos para o público infantil. Para o público adulto, no entanto, tem sido um tanto desconfortável e cansativo, ainda que a crise financeira deste ano tenha-lhe diminuído aparentemente o movimento durante a semana. Diria até que ficou melhor, mais “cultural”, mais integrativo. Talvez, para quem vem de fora ou habite recantos distantes da cidade, sem muita intimidade com o centro, ela pareça sempre pitoresca e arrebatadora, como já foi realmente nos bons tempos. Com certo constrangimento, confesso que a tenho evitado, ainda que o apelo dos muitos livros expostos nas pequenas bancas seja sedutor. O tempo abafado não combina com a cobertura e o plástico que protegem a área da Feira na praça e, nos momentos de pico, é muita gente se acotovelando em corredores estreitos, espremida, barulhenta e dispersiva. Via de regra, os livros não são propriamente novidades e não há grande diferença de preço em relação a promoções de boas livrarias. Os personagens que gravitam em torno do acontecimento, as badalações de mídia e o enfoque oficial passam a impressão de que o tempo não mudou: 1998, 2004, 2008?

Comprar pela Internet tem sido mais cômodo. Sem o tradicional churrasquinho e o acarajé de baiana, a coisa perdeu muito a graça. Até as sessões de autógrafos talvez não tenham a trepidação e o encantamento de outrora, a despeito de alguns bons autores e suas obras. Enfim, o evento não me empolga mais como antigamente, mas, como ouço, aqui e ali, comentários convergentes, que fortalecem esta minha impressão, creio que está na hora de repensarem o evento. Não tenho a receita, mas é preciso recuperar-lhe a mística e o incomparável charme de primavera, ao menos para o público adulto que mora na cidade. Como a passagem pelas entranhas da Feira é obrigatória no meu trajeto laboral diário, logo me habituarei com as inovações, mas terei ao menos certeza de que se projeta para o futuro com seu encanto de 54 anos. É uma joia da nossa cultura e tradição, portanto, merece atenção permanente e cuidados.

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 11/11/2008
Reeditado em 02/11/2017
Código do texto: T1278265
Classificação de conteúdo: seguro