Honestidade não basta
Dia desses ouvi um fragmento de conversa numa praça de Viçosa-MG que confirmou o que eu já teorizava há bastante tempo. Muitas pessoas escolhem e avaliam seus representantes do Executivo e do Legislativo única e exclusivamente com base no requisito “honestidade”.
Como estava caminhando a passos largos, pude ouvir apenas duas frases da conversa de dois senhores de meia idade, com jeito de serem pessoas muito simples. Um deles disse num nítido tom de deboche: “esse prefeito não está fazendo nada na cidade”. O outro imediatamente retrucou: “mas ele pelo menos é honesto!”
Mesmo sem ter conseguido ouvir o restante da conversa, tive uma prova do quanto a honestidade continua sendo uma referência importante para as pessoas quando o assunto é administração pública. Se, por um lado, tal preocupação reflete um aspecto muito positivo no modo de pensar da população, por outro revela o quanto ainda precisamos amadurecer em nossa percepção do que seja ideal em um prefeito, governador, presidente da República e nos legisladores em suas diversas instâncias.
Não é de se estranhar a valorização da honestidade num país com tanta tradição no campo da corrupção; num país em que a devolução de dinheiro achado vira reportagem na TV em horário nobre. Sou do tempo em que ser honesto não era mais do que uma obrigação; que a retidão de caráter já deveria estar implícita nas relações familiares e sociais.
Não tive que aprender esses conceitos elementares nos primeiros anos de escola; muito menos na época de faculdade, em que tive acesso às grandes teorias filosóficas que alicerçaram o pensamento ocidental nas suas mais variadas ciências. Aprendi com meu saudoso pai e com a minha querida mãe – ambos com escolaridade que não ultrapassou a 4a série.
Partindo-se, então, do pressuposto de que todas as pessoas devem ser honestas, o que se espera de um administrador público é que ele saiba, de fato, administrar. Recentemente, um trabalho acadêmico desenvolvido na Faculdade de Viçosa (FDV) por três estudantes do 3o período de Administração de Empresas (Débora Dias da Silva, Luciana Moraes Almeida e Pékos Ryokai Monteiro), orientados pela professora Maria Inês do Carmo, ressaltou o tema "A inserção do administrador profissional nas prefeituras municipais".
O estudo, realizado em Viçosa e em outros seis municípios da microrregião, buscou obter informações sobre o conhecimento e a percepção dos prefeitos ou chefes do Poder Executivo local em relação ao profissional de Administração e sua inserção nas organizações municipais. A conclusão foi taxativa: “na nossa microrregião é exígua ou praticamente diminuta a acepção da maioria dos dirigentes sumos do Poder Executivo Municipal, questionados quanto à importância do administrador profissional, tal como sua função na administração pública. Em apenas 14,29% dos sete municípios pesquisados identifica-se a presença do administrador profissional. Grande parte das funções e atribuições pesquisadas nas Prefeituras da região é ocupada por pessoas não qualificadas, ou, até mesmo, pelos próprios prefeitos”.
Certamente essa é a realidade da maioria dos municípios brasileiros. Também é certo que, se por acaso, a maioria dos prefeitos assumisse a direção de empresas privadas, sob as leis e prerrogativas administrativas que as regem, teríamos uma avalanche de falências após quatro anos. Para administrar, honestidade não basta!