Cascata das Antas

As pedras claras, refletindo o sol. A água descendo, dois volumosos jorros d’água escorrendo suaves do alto. Não se vê a violência da água. É como se acariciasse as pedras, amareladas por muitos e muitos metros ao redor, mas negras onde a água cai, onde mal se vêem as pedras no meio da água.

Vegetação no canto esquerdo, e é como se penetrasse sob a água, que já desceu dois lances de degraus de pedras; à frente um tufo maior, verde, de que uma sombra realça o brilho; tufos maiores, mais brilhantes, acima, onde começa o jorro d’água da direita, que parece cair do meio das pedras.

Árvores no cume da cachoeira, desgalhadas, ressecadas. No início do jorro da esquerda (o da direita não se vê), um grande bloco de pedra: é como se a água saísse de dentro da pedra.

Uma pouca de terra, quase vermelha, num barranco sob as árvores; vegetação rala, esparsa, semeada ao acaso, adstringindo-se às pedras; e as pedras ali, a água jorrando no mesmo lugar, como se a paisagem não se mudasse, a mesma água, as mesmas pedras, as árvores secando-se no pouco chão entre as pedras.

Vê-se a água entancada lá no alto, vazando e despencando-se aos borbotões pelas pedras. Há muitas pedras claras da luz do sol, claridade que o verde-escuro da vegetação e das árvores enfatiza.

À direita, ao fundo, um lago de água clara, esverdeada, refletindo um pouco de sol e um pouco do verde das árvores.

Ruínas ao lado, do que foi uma usina elétrica. As pedras são pontiagudas, mas não ferem; desferem chispas do sol agudo, como facas no ar, mas não ferem: suavizam o olhar, descansam.

O que se vê são os gritos da água, uma orquestra descabelada zunindo seus uivos, que são gritos e são uivos, mas são agradáveis.

O coração bate mais forte, é um monjolo descontrolado dentro do peito, mas feliz, exultante.

Estamos aqui, ao pé, levados de uma ventania, de um furacão, e é como se pairássemos suaves no ar claro.

E o azul paira no céu limpo, em êxtase.

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(Separo aqui a primeira e a última parte da crônica "Cachoeiras", em que tento retratar a Cascata das Antas, em Poços de Caldas, MG.)