Cachoeira Véu das Noivas

A cachoeira está quase seca, os grandiosos blocos de pedra espelhando o sol, ao centro, e dois filetes d’água aos lados lembrando o velho esplendor de nuvens e nuvens de água, espumas e espumas elevando-se do precipício, vestindo as pedras de um véu suavíssimo.

As pedras são noivas tristes ao sol.

Ao centro, embaixo, uma poça com uma água meio parada, meio suja, que veio se esgueirando por entre as pedras, dos lados. Acima, um confortável trono formado pelas pedras, pelo trabalho incessante das águas nas pedras, esperando que ali se assente algum príncipe gigantesco.

E descanse a perna esquerda, exausta, no refrigério daquele poço esquecido, esse príncipe de fábula nesta cachoeira de fábula, enquanto o pé direito se alonga e se apóia nas pedras secas aquecidas pelo sol, e se ergue delicado, sustido talvez apenas pela polpa dos dedos, para que o cotovelo ali, no seu joelho, repouse, e a mão desanimada segure o queixo, e se torne um pensador lamuriento.

Chorando a noiva ausente, que nem o seu véu ali deixou, esse príncipe-pensador meditabundo, sem saber que as pedras é que são noivas tristes ao sol.

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(Resolvi identificar minhas cachoeiras. A Véu das Noivas, de Poços de Caldas, MG, é essa aí acima. A crônica foi escrita há cinco anos, quando estava quase seca. Tristíssimo.)