QUE BELEZA DE BANANA

Em março de 2006, vovó Zezé completava 100 anos de idade. É verdade, 100 anos! A família se encarregou de fazer a festa que ela tanto queria e que lhe era real e de direito. Afinal, talvez, nenhum de nós, filhos, netos, bisnetos e tataranetos chegaríamos a tal idade, e com a incrível lucidez que ela ainda expressava.

Nós fomos para a sua festa, em caravana, a Juiz de Fora onde ela morava. Não me esquecendo de relatar que a vigem em si já foi uma festa. Contratamos uma lotação particular, um ônibus de turismo e saímos de Lagamar, passando por Patos de Minas, Presidente Olegário e regiões vizinhas, todos da família. Uma viagem inesquecível! Partimos às cinco horas da manhã. A viagem foi demorada devido às péssimas condições das estradas. Chegamos ao destino todos muito cansados, pois foram mais de doze horas seguidas viajando.

Tentamos nos acomodar, cada um procurando descansar como podia, pois a casa era muito pequena para tanta gente. Eu mesma fiquei horas à procura por um cantinho onde pudesse escorar um pouquinho, até que encontrei uma cama improvisada, ao lado da vovó Zezé, e ali me aninhei. Ficamos tão próximas que se eu levantasse a mão poderia tocar a sua cabeça. Ela, nesta ocasião, já estava cega.

Logo que me deitei, uma de minhas tias trouxe-lhe uma banana amassada. Embora cega, ela conseguia comer sem ajuda, mas como estava deitada era preciso ajudá-la. Minha tia, pacientemente, dando-lhe a banana com uma colher, fazia brincadeirinhas com ela. Depois que minha tia saiu, vovó Zezé teceu elogios à fruta:

— Que beleza de banana! Que delícia, tão docinha, que coisa mais boa! Precisava saber de onde veio esta banana! Se eu pudesse, iria lá no pé agradecê-lo por ter dado uma fruta tão gostosa.

Com certeza vovó Zezé não percebeu que eu estava ali, bem juntinho dela e não soube também quão grande e linda lição ela me deu naquele dia. Como foi lindo vê-la comer uma simples banana, como sendo um ritual de reconhecimento a Deus pela obra perfeita da natureza. Aquela banana era especial, era diferente, mais doce, mais pura, excelente exemplar de fruta.

Não, não! vovó Zezé é que era diferente de todas as pessoas que conheci. Para ela, tudo na vida tinha um sentido bom, tudo era motivo de agradecer a Deus. Tudo para Vovó Zezé, desde as coisas mais simples, como o ato de comer uma banana, era valorizado. E assim tudo que fazia, ou falava se transformava em algo especial.

Naquele momento, senti vergonha de mim mesma, por ter desperdiçado tantos momentos lindos da minha vida. Poderia ter vivido mais e com mais intensidade e valorizado mais as pequenas coisas, ter me encantado com os beija-flores ou com as cores vibrantes das borboletas.

Poderia ter cantado e dançado mais ao som da grande orquestra da vida, tornado mais amenos muitos momentos da minha vida, que eu, com as minhas ranzinzices, acabei tornando-os amargos e indigestos, para mim e para as outras pessoas com quem convivo.

Poderia ter lamentado menos, chorado e reclamado menos, vivido mais e saboreado mais as “bananas da vida”.

Maria Helena Camilo