O que é melhor, editar nosso trabalho num site pessoal ou lançar livros em âmbito nacional?
Vou dar o meu ponto de vista porque conheço os dois lados da moeda, mas antes deixe-me fazer uma breve retrospectiva.
 
Eu comecei a escrever na rede em 2000. Eram poemas líricos na sua grande maioria.
Mandava meus rascunhos para uns poucos amigos(as) da Net. Não era a intenção ir além disto e, muito embora eu soubesse que tinha facilidade para expressar sentimentos e pensamentos pela escrita, surpreendí-me quando os vários sites literários da Net começaram e me pedir textos.
E então, sob a batuta da Iraíma Bagni, webmaster/designer, foi criado o meu espaço na rede no final de 2000/início de 2001.
Saiu do ar várias vezes porque eu desisti várias vezes.
 
A partir de 2001 houve uma sucessão de acontecimentos inesperados, chegando como ondas, uma após as outras, e cheguei até aqui com 4 livros editados, sendo 3 em âmbito nacional. Já poderia estar no 5º ou no 6º mas isto é uma outra história que qualquer dia eu narro.
 
Todo este processo não foi linear, programado, planejado.
Muito pelo contrário, veio tipo "arrastão", com ou sem o meu consentimento, e neste miolo, posso computar tanto acontecimentos de grande alegria e realização quanto o seu oposto.
A única diferença é que antes eu não sabia lidar com os desapontamentos e agora ... continuo não sabendo:-) mas já não levo tão a sério.
Adotei a frase da Scarlett O'Hara e digo: amanhã é outro dia! 
Faço aqui um adendo necessário:
toda vez, leitor, que a sua vida chegar no auge do caos, do desespero, não faça nenhuma besteira. Diga que amanhã será outro dia.
Se o outro dia também for péssimo, torne a repetir, amanhã será outro dia.
A tempestade cessa de repente (ou aos poucos) e abre um céu de brigadeiro. Digo-o com a convicção de quem conheceu o abismo muitas vezes e de lá ressurgiu outras tantas.
 
Mas voltando onde estávamos, meus planos eram bem outros.
Jamais havia me passado pela cabeça ter site, ser escritora, ter livros.
Eu odiava computadores pelo tanto que já era obrigada a lidar com eles no banco logo da sua implantação e isto, a princípio foi caótico.
Eu sempre imaginei que quando me aposentasse e meus filhos estivessem encaminhados, eu teria um cantinho perto da praia e faria algo que adoro: leria tarô para os turistas ou faria seus mapas numerológicos.
Até me imaginava vestida em traje indiano, cheia de colares coloridos, brincos e anéis.
Nunca me importei com o fato de algumas pessoas olharem para isto com olhos distorcidos.
Eu conhecia meus dons e, a fora isto, havia uma fundamentação auferida nos livros e na vida prática.
Eu gostava de ouvir as pessoas. Mesmo no banco posso dizer que minha mesa sempre foi um confessionário. Mas não me bastava ouví-las. Eu sentia necessidade de ajudá-las, de fazê-las ver o que para mim estava óbvio, mas que para elas não estava.
 
Desnecessário dizer que houve uma mudança radical de rota e que o destino decidiu diferente mas, no frigir dos ovos, resultou na mesma coisa. Escrevendo poemas, preces, mensagens, crônicas ou editando livros, as experiências estão sendo compartilhadas da mesma forma e, ao longo dos anos, carrego a certeza de ter ajudado (ou de estar ajudando) muitas pessoas, assim como tenho sido ajudada por muitas outras.
Há figuras marcantes neste meu trajeto, pessoas das quais eu jamais poderei me esquecer enquanto viver... pessoas que eu gostarei de encontrar do outro lado da vida.
 
Por toda esta vivência eu lhes digo: a Net é um milagre.
Então, entre um espaço na rede e um livro editado, mil vezes um espaço na rede, um Site ou um Blog.
Um livro, por bem editado e bem distribuído que seja, é um filho que parte em definitivo. Você nunca saberá em que mãos ele cairá, se será de cabeceira ou lido no banheiro. Se será retomado pelo leitor de vez em quando ou será esquecido no armário. Se irá para os sebos da vida ou para o lixo. Você nunca saberá se os seus sentimentos e pensamentos foram compreendidos ou se você pregou no deserto.
 
Sabem que eu tenho um costume antigo. Toda vez que leio um livro e este toca o meu coração, me esclarece, me faz crescer e me inspira, eu mando uma carta para a editora parabenizando o autor, e outra carta pedindo à editora que entregue ao autor.
Faço isto desde a adolescência.
Hoje é tudo por e-mail, o que facilita muito. A última carta que eu escrevi há tempos, foi para o Dr.Marco Aurélio Dias da Silva, autor do famoso livro "Quem Ama Não Adoece".
Tres meses após o envio, veio a resposta dele escrita de próprio punho, que eu guardo carinhosamente nos meus pertences.
Também já escrevi para o Rubem Alves quando li um livro fantástico: O que é Religião. Nem sei se ainda está disponível nas livrarias pois a 1ª edição foi de 1981.
E mais recentemente para Osmar Ludovico, autor de Meditatio.
São livros que, após ler, a gente se sente maior e melhor e no final a gente diz:
Bravo!!!
 
Fechando mais este adendo, torno a repetir que a Net é um milagre porque permite a interação em tempo real entre escritor/leitor. É uma coisa viva, palpitante.
A gente escreve, edita no site ou blog, recebe opiniões concordantes ou discordantes, aprende com elas, dá a devolutiva e por aí vai.
 
Está certo que um livro nos eterniza. Bom ou ruim, um livro nos eterniza até do ponto de vista numérico, já que há um ISBN e uma catalogação na Câmara Brasileira do Livro, há um CIP, e estes dados são definitivos.
Agora, se o que escrevemos é definitivo e será lembrado, isto fica por conta dos leitores ... ou até mesmo do destino. Quantas grandiosas obras não foram descobertas muito depois da morte do autor/a? Algumas partituras preciosas de Bach, por exemplo, só foram descobertas porque viraram papel de embrulhar carne.
 
Quem escreve o faz por paixão, por dom, em especial os que escrevem com a alma. 
Não estão preocupados em mostrar erudição, não se envaidecem de seu dom porque o reconhecem apenas como uma pequena parcela, dentre as muitas outras que compõem a riqueza imensurável da vida e da arte, não têm pretensões acadêmicas. Quase sempre são humildes e despojados dentro da própria grandeza. Como diz a canção do Caetano:
por isso uma força me leva a cantar/por isso é que eu canto não posso parar.
 
E assim, se novos livros vierem levando a minha autoria eu ficarei contente, é claro. Mas alegria mesmo? É isto que vivo aqui no dia-a-dia com meus leitores.
Esta vivência sim, é iniqualável.
 
 
 
 
Foto de Vera Lúcia Vieira
Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 17/10/2008
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1233934
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