Crônica e contas de uma vida
Um dia, o sol vai nascer diferente, e vou voltar a sentir a vida como antes sentia. Uma noite destas sairei para caminhar e sei que não vou voltar, o caminho novamente será sem fim. Quem não espera que tudo mude, o universo, porque não acreditar que existem mais mundos, mais seres, novas perspectivas de quem e o que somos, e se tão imenso é o universo para acreditar em tais possibilidades, porque não acreditar em mudanças em nossas vidas, nossos dias e noites, nossos desejos, dores, amores, caminhos, tudo, tudo se muda, tudo é possível, a vida após este universo e porque não no próximo passo? Acreditar que se pode, que se da conta do recado, se não der, que se dane, passe o recado a sua maneira, mas ande, olhe e descubra, perceber o quão é importante o cheiro da vida, a caixinha de lápis de cor com cheiro bom, o cheiro do chicletes, o sabor da água da piscina, o frio da água do mar, nossas primeiras mãos dadas, a sensação inigualável de abraçar o primeiro amor, ou ficar no portão com amigos até altas horas sem porque nem assuntos que salvariam o mundo, ou ao menos o dia. Não, não temos respostas e vivemos a tentar encontrá-las ou formulá-las, desistimos muito cedo de tudo quando ainda nem aprendemos o básico, e muitos não seguem seus caminhos onde deveriam, sua natureza, seu destino feito pelo ardor que incendeia o coração humano quando se sente em sua razão, quem nos tirou, quem nos convenceu que não estávamos certos na hora de bater as portas e jogar as antigas chaves fora. Onde esta escrito que somos responsáveis por tudo aquilo que cativamos, não, pensando assim esquecemos de nos cativarmos em solo fértil de nossos próprios pensamentos e desejos. Não sei a receita perfeita, mas sei que o amor, a amizade, a vida e tudo isso em conjunto só se torna possível dentro de duas eternidades quando as terras brotam os mesmos sonhos. Sou um homem que viveu a vida de forma corajosa e intensa, não desisti antes de meus sonhos e me vi sentado observando todas minhas façanhas e conquistas, admirando o retrato de meu passado sem construir novos presentes de meu jeito, de minha forma, e se deixar algo as pessoas que me amam, que talvez possam me ler, poderia dizer que o amor, o ardor de um peito inflamado de paixão, não deve haver bombeiro ou tempestade que o apague, viver e sentir as sensações de criança, sempre, não envelhecer, não temer, pois a morte é o fim e verdadeiro algoz de toda a esperança, e até então, tudo é possível, pintar, cantar e sim, mudar. Sou tanto que perdi as contas, e no final delas, me dei conta que o preço nem era tão caro assim, e agora, com alguns trocados no bolso, moedas e papeis e claro, o fogo de meus olhos, de minha alma ardendo em meu desejo de tudo mudar novamente, cigano dentro de mim mesmo. Quem não sonhou com todo amor desta vida em uma paixão que tudo mudasse? Quem não desistiu no fronte perante as tropas inimigas, houve os que ficaram na trincheira e os que enfrentaram de peito aberto o fogo inimigo, fui todos, e não sei se venci ou perdi, estou só,foram muitas batalhas, envelheci meu paladar, endureci minhas mãos, trabalhei, soube amar uma mulher e fazer outras se sentirem amadas, parei de fumar, fiz da solidão minha amiga, minha fala aprendeu a se ausentar dando ouvidos aos meus ouvidos, vieram então o inverno em meus cabelos, o decisão da sabedoria e o aprendizado marcado da vida, tudo isso, besteira, tudo queimou dentro do caldeirão fervilhando dentro de meu peito, não havia velhice ou tempo, poder, educação, bom senso ou sociedade que impedisse de pensar novamente, meus pés andarilhos e minha mente sem limites libertas novamente estariam novamente alinhadas com a alma de um homem que nasceu para sentir, para sofrer e aprender, o porque não, no fim de tantas contas, o resultado, não ser, o amor.