SEGUNDA-FEIRA? Ô dureza!
Fátima Irene Pinto
É verdade. Quando eu trabalhava todo mundo chegava de mau humor na 2ª feira, do vigilante ao gerente. As coisas não fluíam, as máquinas emperravam e o sistema saía fora do ar, como se até as máquinas também tivessem alguma dificuldade em recomeçar nova semana ... ou estariam elas apenas refletindo o estado de espírito coletivo? É possível.
Na sexta-feira todo mundo comemora: uebaaaaaaa! Vamos descansar, fazer churrasco, viajar, pescar, namorar, dormir sem hora para acordar, assistir nossas películas favoritas.
Só que raramente o fim de semana sai como a gente programa.
Aos sábados passamos um tempão no super-mercado abastecendo nossas despensas. Depois ficamos sabendo que vamos ter visitas. Aqueles parentes chatos que nada têm a ver conosco, mas nos ensinaram desde criança que temos que exercer a hospitalidade.
A gente prefere macarronada com porpeta mas eles só comem carne de soja.
Ou então a gente não bebe, mas de repente eles bebem todas.
A gente quer dormir mas eles estão com a corda a toda para passear...e por aí vai.
Quando isto não acontece, é o telefone que toca feito um ensandecido.
Vou tirar a extensão do meu quarto, juro.
São os amigos, amigas, namoradas, a tribo dos nossos filhos.
Depois começa um entra e sai sem fim, que começa exatamente na sexta à noite e se estende pelo domingo a fora, sem contar a campainha que parece tão alucinada quanto o telefone. Vou explodí-la.
O curioso é que apertam a minha campainha e a cachorrada da vizinhança é que resolve latir em uníssono. Um late, o outro late porque o outro latiu, e de repente todos estão latindo:-)
Socorro! A estas alturas eu já me dei conta que o nível de estresse começou a subir e, quando olho para o tamanho da pia de louças para lavar, aí sim, tenho certeza que vou amanhecer um caco na 2ª feira.
Mas ainda resta o finalzinho da tarde de domingo e a gente se diz:
- Calma! Nem tudo está perdido, afinal ainda restam algumas horas para refazimento.
A gente coloca o filme que pegou na locadora, indicado pela atendente:
- Olha, eu quero um filme pra relaxar, levantar o astral, entende?
A última vez que deixei a atendente escolher um filme para mim, acho que não me expliquei direito porque ela me deu o Paciente Inglês. Morri de tédio.
Never more que deixo escolherem filme para mim, nem que tenha que passar 1 hora na locadora.
E então termino onde todos terminam após um doloroso Faustão: no Fantástico.
Diga-se de passagem, nada, absolutamente nada de fantástico existe mais no Fantástico.
Rodo os canais e por fim deparo-me com um show de André Rieu!
Finalmente, algo para relaxar, emocionar e levantar o astral ... mas era o último bloco seguido de comerciais. Quer saber? Vou é dormir!
Lá se foi o fim de semana que, de reparador, não teve nada, muito pelo contrário.
E assim eu acordo, tu acordas, ele acorda, nós acordamos na 2ª feira, um lixo!
Quem sabe no próximo eu tome coragem e, já na sexta-feira à noite arrumo minha matula e vou para um hotel, nem que for aqui da praça mesmo.
Já posso imaginar a cara do atendente que não dirá, mas pensará:
Por que será que ela hospedou-se aqui? Fugiu de casa? Encontro marcado?
E me antecipo:
- Gerúncio, me acorde só na 2ª feira, por favor!