Uma valente mulher

Diva, embora a pequena estatura, representa o que podemos chamar de grande mulher. Educadora nata, nunca se sentou numa carteira de faculdade. A vida ensinou-lhe, com profundidade, não as teorias, entretanto a prática de como driblar os problemas na educação de filhos.

A normatividade teórica de Diva assemelha-se à teoria de D. Bosco, embora talvez ela mesma nem tenha conhecimento disso. Criou seus nove filhos, com aquele carinho todo especial, sem nunca recorrer a chinelos e correias para corrigir alguma falta cometida pelas crianças. Era tudo na base do diálogo, da explicação, da calma e da paciência e a esperança de que as boas palavras frutificam. Ela também não permitia que os filhos apanhassem do pai.

Um dia, Diva ouvira gritos de criança, que vinham da casa vizinha. Não titubeou. Saiu como um raio para a rua e em poucos segundos já invadira a casa. A cena que viu a encheu de coragem para o ataque. O pai dava lambadas com correia no filho que, em vão, tentava esconder-se atrás de algum móvel. Os gritos de socorro, de súplica daquela criança não comoviam o pai que, com toda a sua força, extravasava a raiva e a insensatez.

Diva não pensou duas vezes e lá estava ela entre o homem e a criança. Com os olhos, fulminou aquele monstro que, por uns instantes, surpreso e assustado, interrompeu o suplício e encarou a vizinha. Mas ela não se intimidou. Partiu para os puxões de orelha:

— Nele o senhor não bate mais! Olha lá o que sou capaz de fazer, se ouvir mais um grito do menino!

O pequeno ficou paralisado, depois correu e se escondeu no quarto.

Devagar, Diva foi-se afastando e daí a pouco estava em casa, sem fala e sentindo que suas forças tinham se exaurido. Sentou-se no sofá e foi rodeada pelos familiares que tomaram conhecimento da façanha daquela supermãe. Depois dizem que na educação doméstica não se deve meter a colher. Diva teve uma coragem surpreendente. Aquela cena cruel de um pai surrar o pequeno filho nunca mais se repetiu. E era um tempo sem Estatuto da Criança e do Adolescente e telefone de denúncia contra violência infantil. Diva representou uma espécie de resistência solitária e solidária, em defesa da criança, representou toda uma política de proteção à infância.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 05/03/2006
Reeditado em 28/01/2011
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