APRENDA A DIZER O QUE VOCÊ QUER (OU NÃO QUER)
Fátima Irene Pinto
Se as pessoas fôssem capaz de dizer com clareza o que querem e o que não querem, penso que a vida se tornaria bem mais simples e os relacionamentos mais duradouros.
Querem ver como as coisas malogram por causa desta incapacidade?
Um casal está se conhecendo. Bateu afinidade mental e afetiva, mas como ambos estão na dança da sedução, não dizem um ao outro como gostam de vivenciar a intimidade.
Ele pode ser do tipo sexo selvagem. Ela, ao contrário, pode preferir uma penumbra.
Ele funciona em qualquer situação. Ela só funciona depois de estar convícta da reciprocidade dele em relação aos sentimentos dela.
Ele, embora viril, prefere que a companheira tome as iniciativas. Ela pensa que as iniciativas sempre devem caber ao homem.
Ele pode ser tradicional. Ela pode ser uma atleta do sexo.
Então este casal, que a princípio combina mental e afetivamente, parte para a intimidade assim no escuro ... é trombada na certa! O sonho vira pesadelo.
Ele pergunta se foi bom, e ela, que fingiu o tempo todo receando desapontar, diz que foi ótimo. Não creio que haja uma segunda vez, a menos que sejam honestos um para com o outro e que esclareçam suas reais expectativas no que tange à intimidade.
De repente podem até fazer um acordo razoável: uma vez será do seu jeito, outra vez do meu. Mas é preciso que se diga ... e as pessoas não dizem. Será que imaginam que está escrito na testa?
Outro fator de extrema importância que o casal evita comentar na fase da sedução ou da "paixonite aguda", é a questão financeira. Milhares de casamentos ou ajuntamentos desabam por conta disto.
Pode não ser muito romântico falar sobre como administrarão seus recursos, sob a luz do luar ou de velas, e no entanto, se esta questão não estiver muito bem resolvida e clara como a luz do sol, é outra trombada na certa. Acreditem, não é feio nem mesquinho, ao contrário, é necessário e elegante. O bom entendimento financeiro é tão importante quanto o bom entrosamento sexual e afetivo, ou quanto o senso de humor que ambos compartilham.
Uma pessoa pontual não suportará um parceiro(a) que se atrasa sistematicamente.
Uma pessoa atirada e decidida não consequirá conviver com um procrastinador crônico.
Um morrerá de ansiedade pela procrastinação do outro, e este por sua vez, sentir-se-á atropelado, como se lhe passassem um trator de esteira.
Não seria bom dialogar antes sobre o "rítmo" de vida de cada um?
Em especial nas amizades, na convivência dentro do lar, no local de trabalho, faz-se necessário dizer o que queremos e o que não queremos. O que gostamos e o que não gostamos. Primeiro, porque as pessoas não são obrigadas a adivinhar. Segundo, porque quando se deixa claro, há sempre a abertura para a negociação e, o que é bem negociado, dificilmente será desarraigado.
Talvez você que esteja lendo isto, pense: mas eu não consigo falar, por alguma razão eu emperro, falo na hora errada, falo demais, falo de menos, falo o que não era preciso, e o que era vital fica sem ser dito.
Então saiba que você não será a primeira pessoa a ter este tipo de dificuldade, nem será a última. Provavelmente na sua infância você foi tão "esmagada" quando tentou colocar suas opiniões, que aprendeu que elas não mereciam ser ouvidas, que suas reivindicações são tolas e desprovidas de propósito. Em outras palavras, você foi bloqueada na arte de expressar seus pontos de vista com clareza e assertividade.
Mas, como para tudo na vida sempre há uma saída, que tal escrever, botar tudo no papel, sempre que você estiver vivenciando situações que a façam sentir-se desconfortável, e entregar para a outra pessoa ler?
Uma coisa é certa: emburrar, fazer cara feia, ficar de mau humor, decididamente não resolve, pelo contrário, confunde os outros e embola o meio de campo.
Mas o caos se instaura mesmo é quando você vai suportanto por anos a fio situações que a incomodam, fazendo cara de paisagem e deixando transparecer que está tudo bem. Um dia você explode, pode crer, e começa a gritar feito uma louca desvairada.
E a galera que de nada suspeitava porque você não dizia, terá apenas um equivocado comentário:
- Pobrezinha! Ela Surtou!
(ps: Não sou psicóloga nem do ramo. As opiniões aqui colocadas têm como único embasamento a observação dos fatos da vida, da qual coloco-me como eterna aprendiz).
Descalvado - SP
20.09.2008