QUÉ CULPA TIENE EL TOMATE ?

Assim diz a letra de uma canção da época da guerra civil espanhola: “Qué culpa tiene el tomate, que está tranquilo en la mata y llega um hijo de puta y lo mete en uma lata” ( La hierba de los caminos). Primeiramente, não tenho mais saco para discutir esta política nacional, até para não perder amigos, por mais equivocados que eu julgue possam estar nas atuais circunstâncias. A política é um campo tão passional, que, não faz muito tempo, por banal comentário, um dileto conhecido houve por bem tecer crítica a algo absolutamente neutro que eu escrevera; respondi, mas não dei muita bola para a bobagem. O cidadão, acredito, deu-se conta e acabou até saindo do ar. Alguns desembarcam no campo virtual com armadura e lança de guerra contra moinhos de vento. Na rede, a palavra fica mais ligeira do que o pensamento, assim como é ágil no gatilho o dedo do assaltante novato. Entendo mesmo que alguns possam sentir-se circunstancialmente acuados, perdendo gradualmente certa soberba ideológica e escorregando em convicções anquilosadas, à esquerda ou à direita: o século XXI surge com novos conceitos, desafios e exigências posturais. Tem muita gente, por incrível que pareça, ainda de algum modo enredada nos efeitos bipolarizados da antiga guerra fria, entre Capitalismo e Comunismo, Ocidente e Oriente. Compreender os novos tempos requer maturidade, tolerância e a consciência de que temos de nos libertar de formas rígidas e arcaicas de pensar e de certas neuroses. Os mais novos têm de se liberar da cartilha surrada da minha própria geração. Enfim, é preciso primar sempre pela racionalidade e pelo interesse maior de fazer bem e melhor. Há muita coisa a ser repensada. A idade da ideologia morreu de morte morrida. Quando falo de ideologia, refiro-me a exasperações, a dogmas e preconceitos. Não entendo como a leitura é, hoje, prática tão anêmica, uso tão limitado. Consumo de bens, veículos, roupas, adereços, eletrônicos ou quaisquer objetos de grife alcançam impressionante relevância social: há imbecis assassinando por um par de tênis ou por ridículo aparelho telefônico portátil.

Há questões bem mais relevantes a considerar. Stephen Hawking sustenta que o universo pode ter sido perfeitamente criado por si próprio, sem necessidade da figura de Deus para explicar seu surgimento. Fisicamente, o universo pode ter surgido de um estado onde nada existia, ou seja, do zero. Devido a leis como a da gravidade, o universo é capaz de regular seus mecanismos sozinho. Este, sim, é um tema para reflexão e que estabelece um largo e importante horizonte filosófico, que interessa a todo mundo, mas há gente que não quer nem saber. Neste contexto, eu me preocupo. Não com partidos fajutos, políticos de araque e alianças espúrias. A política só é importante em sua interface com o desenvolvimento econômico e social. O futebol é lúdico, a arte é cultura e prazer estético. A corrupção desbragada já é outro departamento e a gente tem de sentar o ferro mesmo, sendo irrelevantes os pontos cardeais ideológicos. Portanto, não perderia meu tempo criticando, repelindo ou evitando os que simplesmente pensam diferente. Muito chato se todo mundo pensasse igual. Afinal, qué culpa tiene el tomate?

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 11/09/2008
Reeditado em 10/11/2017
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