MEMORIAL

Milhões de personagens fizeram história, cumpriram seus deveres, procriaram, trabalharam, povoaram o universo com seus sonhos e ajudaram a construir o tempo de hoje e o mundo em que estamos mergulhados. Boa parte desapareceu praticamente sem deixar traço ou memória, salvo, talvez, para um leque muito reduzido de pessoas. Ou, então, o desaparecimento foi recíproco e o passar dos anos colocou-nos em diferentes galáxias, deixando uma enorme impressão de distância e vazio. Portanto, não cogito apenas de morte física, mas da incontrolável dispersão das almas na voragem do tempo e nos labirintos deste imenso espaço. Não sei se basta, mas todos têm um Memorial interior, que não confere eternidade nem aproxima ninguém, mas é um testemunho de vida: Elza, Dora, Frida, Neli, Maria Aduzinda, Salete, Maria, Maria Helena, empregadas domésticas, Crispim, Hélio, Davi, Mário, Juvêncio, Flávio, motoristas, Manuel, jardineiro, Orgêncio, caseiro, Valdemar, vigilante e garçom, Izabel, Cacaco e Negrinha, cozinheiras, Edson, empreiteiro-de-obras, Adão, pedreiro, Eric, auxiliar de pedreiro, Marco, ex-brigadiano, Serginho, contínuo, Artidor, motorista de praça, Dora, servente, Ilza, Ilka e Olgair, professoras, Heloísa, fazendeira, Bartira, empregada doméstica, Adão e Ildefonso, porteiros, Alfredo, zelador, Zilá e Ângela, secretárias, João, garçom e segurança, Oribe, militar, Hugo, João e Gilberto, jogadores de futebol, Jó, decorador, Tânia e Julian, empresários, Fábio, estudante, Nara, estudante, Bento, aposentado, Benjamin, dono de motel, Onofre, escritor, Alexandre, contínuo, Miguel, economista, Jorge, funcionário público, Romeu, comerciante, Chiola, gerente de bar da noite, José, serralheiro, Artulina e Bieta, do lar, Júlio, advogado, Mário, gerente de banco, Rosa, ecônoma, Almedorina, aposentada, Júlia, ascensorista, Valter, padre, e por aí se vai. Alguns mortos, outros bem vivos são, afinal, os nossos fantasmas – bons, maus ou sem especial importância - vultos perdidos da nossa história pessoal.