O mapa certo

Entre as mensagens proferidas pelo papa Bento 16, quando esteve no Brasil no ano passado, algumas delas frisaram bem três palavras de significados profundos e atemporais. Em diversos contextos, ele ressaltou a necessidade de se manterem acesas as chamas do amor, da família e da vida.

Sem entrar no mérito se os seus discursos foram conservadores ou não, moralistas ou não, a mim vale mais o valor universal dos conceitos de amor, família e vida. Algo que extrapola línguas e culturas, que traz à tona ensinamentos elementares já propagados há muito tempo por Jesus Cristo e por outros espíritos elevados que por aqui passaram, a exemplo de Siddharta Gautama (Buda) e Mahatma Gandhi.

Se temos amor em nossos pensamentos, sentimentos e atos (algo próximo do altruísmo e distante do egocentrismo) certamente saberemos entender e valorizar a família e a vida em todas as suas formas. A vida é a dádiva divina; o amor, seu combustível; e a família, o ponto de sustentação e equilíbrio para levar adiante os dois primeiros.

Vivemos tempos difíceis na Terra. Não sei se mais ou menos com relação a algum tempo de outrora, mas essencialmente uma época diferente, em que tudo salta aos olhos com rapidez e intensidade; em que todos parecem confusos quanto ao melhor caminho a seguir.

Há algum tempo, numa palestra proferida para alunos da Faculdade de Viçosa-MG (FDV), onde leciono, Luiz Cláudio Costa – professor do Departamento de Engenharia Agrícola e reitor recém-eleito da Universidade Federal de Viçosa-MG (UFV) – lembrou que o ser humano tem em sua essência o impulso de buscar a felicidade. Numa vertente mais espiritualista, como lhe é peculiar, Luiz Cláudio enfatizou que os inúmeros desencontros e equívocos que ocorrem nesta busca se dão pela escolha do mapa errado. Ou seja, para se chegar à própria felicidade se escolhem os mapas do individualismo, da ganância, do materialismo e mesmo do ódio. O meio ambiente era o foco principal de sua abordagem.

Inúmeras são as vezes em que somos impelidos a seguir por caminhos que nos levem a conquistas e a prazeres considerados indispensáveis, guiando-nos por mapas que nos fazem passar por cima das conquistas e dos prazeres do outro. Quantas guerras são feitas em nome da paz? Quantas pessoas arruinadas em nome dos lucros de outras tantas?

Nunca é tarde para descobrirmos os mapas dos tesouros que realmente valem a pena ser procurados. Por enquanto, a maioria de nós continua, como os piratas do passado e do presente, em busca do mapa do ouro reluzente. Todas ou quase todas as causas das misérias do mundo estão direta ou indiretamente ligadas ao dinheiro, ao poder que ele proporciona.

Há bem pouco tempo, introduzindo um texto sobre corrupção, perguntei a meus alunos da disciplina Filosofia e Ética se eles acreditavam na teoria de que cada pessoa tem seu preço. Após um relativo tempo de silêncio, os que se manifestaram foram taxativos em dizer que sim. Afinal, o que diferencia o suborno ao porteiro de uma festa que se deseja entrar sem ser convidado do suborno a um desembargador por uma sentença favorável é o valor pago a cada um.

Se em sua passagem pelo Brasil o papa conseguiu fazer as pessoas refletirem sobre valores nobres como o amor, a família e a vida, ele fez um bem enorme. Juntos, os três compõem o principal mapa, capaz de nos levar ao rumo certo: o da paz interior e da verdadeira (r)evolução espiritual – os únicos que permitirão chegarmos ao futuro.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 05/09/2008
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