PERDAS E DANOS

Sabemos, pois, que o passado nem sempre é lembrado; também pudera este já passou, vive-se o presente, o agora e, o futuro não chegou, quiçá chegue um dia. Sendo assim, atenho-me aos fatos ocorridos e que estes, não mais podem ser contados pelas pessoas de quem eu falo; até porque é provável, que para estas pessoas, o futuro já tenha chegado, (em um mundo além da vida) e para mim que me dispus a falar, esse futuro ainda é incerto, embora saiba eu, que esse tempo vai chegar para todos. E assim, começo por descrever o começo de uma vida, já que comecei esta crônica com o começo do fim da existência da matéria humana.

A casa se prepara para a chegada de um novo hospede; é o filho que vem. O pai eufórico oferece charutos aos visitantes, isso denuncia o orgulho do herdeiro da dinastia familiar. Nasce o menino, o homem que a família sempre espera; embora digam não haver diferença entre menino ou menina; sabemos porem, existir quem se sinta mais ou menos felizes com o nascimento de um filho ou de uma filha. Na minha concepção, para um pai sexo será o que menos importa, quando da vinda de um ser humano ao mundo, o mais importante é a saúde e a receptividade para o nascente.

Como primogênito de seis irmãos, sendo quatro homens e duas mulheres, assim como, pai de dois filhos; pude espreitar o crescimento de cada um, suas evoluções e características adquiridas ao longo da caminhada em suas vidas.

Em minhas observações, vi que o homem precisa de um referencial como ponto de partida, um norteador de suas ações, um estabilizador do equilíbrio entre o certo e o errado, o fraco e o forte e entre Deus e o diabo nesse mundo de opções.

Pude verificar que quando em criança, construímos esse vinculo com os nossos protetores, em virtude de uma total dependência de segurança; sejam eles nossos pais, avós, padrastos, tios e amigos, ou seja, àquele que transmite a criança o apoio necessário a sua formação básica para a vida adulta.

No período da adolescência, instala-se nos jovens a fase da rebeldia e não lhes permitem ver esse encaixe de referência tão importante, que mais tarde virá à tona, na idade madura desses homens. Por isso nessa etapa da vida, é como, se esse equilíbrio dependesse apenas de nós mesmos, da resposta de cada ação ao que executamos, durante a nossa desenfreada busca de emoção no dia-a-dia desse demarcado tempo. Nesse limiar vivemos apenas o momento presente, uma vez que o passado para os jovens não existe e o futuro sequer chega a ser cogitado por esses.

Todavia, o tempo é o pai de todos e nos ensina, segundo a nossa necessidade e a oportunidade requerida por nós em certo intervalo de tempo. O homem precisa de um referencial, como a planta necessita da água para manter-se viva, viçosa e poder gerar belas flores e produzir bons frutos. O homem vê em seu pai, uma estável base em seu caminhar, um esteio de sustentação para suas edificações. E assim o será, por todo o tempo em que este permaneça ao seu alcance, mesmo que haja uma distância física se interpondo entre os dois, será sempre como se ele ao seu lado estivesse. É com ele que podemos contar, nas horas de angustias e conturbações em nossas vidas.

É muito duro para os filhos, quando a figura do pai desaparece de suas vidas; um pouco de cada um também vai embora, sentimo-nos minimizados, falta o solo sob os nossos pés; nosso referencial sai de cena e atônitos, procuramos ater-nos em nós mesmos, passamos a ser o nosso próprio referencial.

E como ficamos apenas conosco mesmos, nos perdemos de tudo e de todos; pois no meio dessa multidão, passamos desapercebidos pela grande massa; poucos são os que percebem esse desequilíbrio pelo qual passa um filho, quando da definitiva perda do seu elo de referência. Quando perdemos o nosso ponto de apoio emocional, por vezes, quem perdeu não percebe em si mesmo esse transtorno; embora se interrogue: o que se passa comigo? Por que corro tanto e não consigo sair sequer do lugar aonde comecei?

São saudades por palavras não ditas, coisas não realizadas, caminhos não feitos e a certeza de que nessa vida, não mais serão realizadas. Não mais com a presença do referencial nosso de cada dia.

Obtive sempre unanimidade nas respostas dos amigos a quem perguntei e não foram poucos os interrogados, sobre a importância de seus pais em suas vidas, filhos estes, cujos pais já falecidos. Quase todos afirmaram positivamente quanto à importância paterna como ponto de referência, seja esta, uma boa alusão ou não, mas de certa forma são norteadoras no rumo direcional de seus filhos; no jeito de ser de cada um, na construção de suas personalidades e na base de formação psíquicas de suas vidas.

Não posso afirmar qual o grau de direcionamento psíquico da conduta feminina adquirida do pai; entretanto, por alguns questionamentos direcionados as mulheres, quando da perda do progenitor, estas não demonstraram ter havido grande interferência na condução emocional de suas existências. Mas há aquelas que observaram um sentimento de amor e até de rejeição a imagem paterna, por motivos diversos.

A importância de um pai para um filho só quem é verdadeiramente pai entende e, quem é filho percebe e aceita a aprendizagem que, embora não ensinada, aprende-se, usa-se e se passa aos pósteros.

É um processo natural da convivência e por isso, a família sempre foi e será a base para uma sociedade onde prevaleça o caráter do homem, a formação de uma sociedade de princípios, sem o falso moralismo, daqueles que primem pelo bem estar de tudo e de todos. Os pais, os filhos, a natureza e o amor à vida.

Rio, 03 de setembro de 2008

Feitosa dos Santos