Xampu Maluco!

"As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental". A célebre declaração do inesquecível diplomata, poeta, músico e boêmio Vinícius de Moraes, apesar de urdida nos áureos tempos da Bossa Nova, cada vez mais se faz presente na vida das pessoas.

As mulheres, antes de sairmos de casa, checamos a maquiagem, retocamos o batom, penteamos os cabelos, caprichosamente, enfim, todo o visual preparado passa por uma revisão geral.

Em qualquer rodinha, se o bate-papo gira em torno de beleza, o interesse torna-se grande, todos querem participar. Como acontecia às terças e quintas-feiras no Estrela do Oeste Clube. O vestiário feminino ficava pequeno com tanta gente se preparando para a sessão de exercícios das dezessete horas. E enquanto isso, aproveitávamos e conversávamos sobre assuntos os mais variados. Rolava comentário de novela, eventos, trocavam-se receitas de docinhos... Mas o assunto campeão eram mesmo as dicas de beleza.

Numa terça-feira, comentei com Ana Maria Ramos que meu cabelo, muito ressecado e com as pontas quebradiças, precisava de uma hidratação com banho de óleo. Toda solícita, a colega elogiou o xampu que usava, o qual decerto resolveria meu problema. De fato, o cabelo dela, sedoso e macio, chamava a atenção, como se diz, emoldurava aquele rosto.

De imediato me interessei, anotei o nome do produto, da loja, até o preço...

Ao chegar em casa, casualmente, bati os olhos numa peruca preta de cabelos bem anelados e volumosos, que Sávio usava em shows da Banda Lex Luthor. Logo me veio aquele insight de anjo espoleta. Na próxima aula, faria uma surpresinha à Ana Maria.

O plano funcionou. Fiquei de prontidão, escondida no vestiário, já arrumadinha com a peruca. As outras companheiras por ali despistavam, fingindo um movimento natural. E, quando ouvi a voz da colega, entrei em cena imediatamente e me postei diante dela, dizendo com cara de magoada:

- Veja só, Ana Maria, o que o xampu recomendado por você fez com meu cabelo!

Ela olhou-me estarrecida e exclamou:

— NÃO!

Jamais poderia entender como o xampu pôs o meu cabelo enroladinho e volumoso. Olhava, sem piscar, não acreditando no que via.

O clima de suspense foi quebrado pelas risadas das outras “meninas”. Denunciou-se a brincadeira. Aí, então, Ana Maria respirou aliviada, recuperando-se do susto, e caiu na risada também!

Creio que “o menino poeta” de Henriqueta Lisboa, que nos acompanha a todos, de peça em peça, conduzir-nos-á ao Céu!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 25/02/2006
Reeditado em 22/01/2011
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