Um parlamentar por 344 professores
O título desta crônica foi tirado do slogan de uma “campanha” lançada na internet pelo professor de Física do Ensino Médio – Francisco de Sousa Vieira Filho, que trabalha em um município baiano. De forma bem humorada, ele espalhou pelo Orkut e por vários outros sites a situação em que vive o professor brasileiro, responsável por uma das tarefas mais nobres e árduas no desenvolvimento de qualquer nação.
A sua campanha “Troque um parlamentar por 344 professores” revela as contas que ele fez a partir dos dados apurados pela ONG “Transparência Brasil” sobre os custos de um parlamentar no Congresso Nacional. A entidade divulgou uma pesquisa mostrando que os brasileiros pagam, por ano, 10,2 milhões de reais por cada deputado ou senador – quatro vezes mais do que o custo anual de um parlamentar europeu (2,4 milhões de reais).
Francisco, que diz ganhar o salário bruto de 650 reais por mês, ironizou o lema da sua própria campanha, ressaltando que ele poderia ter colocado “Troque um parlamentar por 688 professores”. Optou pela metade, “pois assim sobraria uma verba para aumentar o nosso salário, que é uma vergonha”.
Os seus resultados, porém, estão totalmente fora da realidade, uma vez que os números oficiais são ainda mais cruéis. Um estudo chamado “Estatísticas dos professores do Brasil”, realizado em 2003 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP) – órgão ligado ao MEC (Ministério da Educação), concluiu o seguinte: em média, um professor da Educação Infantil ganha 423 reais; o de 1a a 4a série do Ensino Fundamental – 462 reais; o de 5a a 8a série do Ensino Fundamental – 600 reais; e o do Ensino Médio – 800 reais.
Retomando a “campanha” do professor de Física e os números apurados pela “Transparência Brasil”, é possível concluir que os 10,2 milhões de reais que custam um parlamentar por ano sustentariam no mesmo período mais de 24 mil professores da Educação Infantil, mais de 22 mil de 1a a 4a série, mais de 17 mil de 5a a 8a série e mais de 12 mil professores do Ensino Médio.
Sem precisar entrar no mérito da comparação de Francisco entre os custos de um parlamentar e de um professor, dá para afirmar que o Brasil está muito longe de vir a ser um país desenvolvido. Desenvolvimento, em todos os seus aspectos, só é possível com investimento em educação. Aí, logicamente, entra uma remuneração digna àqueles diretamente responsáveis por ela.
Nesse aspecto o Brasil ocupa um lugar vergonhoso no ranking internacional. Há alguns anos uma pesquisa feita em 40 países pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) concluiu que o salário de professores em nosso país é o terceiro pior do mundo. A situação dos brasileiros só não é pior do que a dos professores do Peru e da Indonésia.
Um brasileiro em início de carreira, segundo a pesquisa, recebe em média menos de 5 mil dólares (aproximadamente R$ 9.250,00) por ano para dar aulas. Na Alemanha um professor com a mesma experiência de um brasileiro ganha, em média, 30 mil dólares (aproximadamente R$ 55.500) por ano. A pesquisa ainda apurou que no topo da carreira e após mais de 15 anos de ensino, um professor brasileiro pode chegar a ganhar 10 mil dólares (aproximadamente R$ 18.500) por ano. Em Portugal o salário anual chega a 50 mil dólares (aproximadamente R$ 92.500), equivalente aos salários pagos aos suíços. Na Coréia do Sul um professor de 1a a 4a série do Ensino Fundamental ganha cerca de 5 mil dólares (aproximadamente R$ 9.250,00) por mês.
Os dados na área são ainda mais desanimadores, mas é melhor parar por aqui. Como boa parte dos educadores brasileiros, continuo otimista e esperançoso de que dias melhores virão...