A SOGRA

Não tenho do que falar mal da sogra, pois a venero. Repugno piadas que malham a sogra! Sou um fã incondicional dela. Uma mulher que está sempre disposta a me apoiar, salientar minhas qualidades, recalcando meus defeitos sobre a alegação de que sou apenas uma pessoa, irremediavelmente, verdadeira e honesta consigo mesmo e com os outros...

Ora, essa divina senhora, outro dia, sabendo que eu estava acamado, devido a uma virose gripal, veio passar alguns dias conosco para auxiliar minha esposa em meus cuidados. Nossa! Comecei a ver meu lar com outros olhos. Ainda não havia reparado no quanto desperdiçávamos dinheiro à toa! Essa bendita sogra deu-nos uma lição de economia. Veja bem, ela nos apontou a grande falha no nosso modo de consumir como porcos... Porcos, fora o termo que usou em relação a isso. Era uma filósofa estrategista! Deu de graça excelentes conselhos, sem precisarmos pedir: “melhor reduzir para um os televisores da casa. Para que um no quarto e outro na sala? Que estória é essa de que fulano ou sicrano não gosta de futebol? Novela, minha gente, tem todo dia! E que mania, irresponsável, é essa de ficar usando secador de cabelo à noite, sendo que se vai dormir? Que absurdo precisar acender a luz do banheiro pra fazer um xixizinho rápido e ainda esquecer de apagar! Para que tanta besteira na geladeira? Light, dait... Parece fala de vaca mascando chiclete... Isto não é comida de ser humano que se presta! É dinheiro jogado na lata do lixo, minha gente! E essa sua roupa... Se tivesse sido lavada à mão, não estaria tão encardida. Esse negócio de máquina de lavar e pra quem não é zeloso... Que centrifuga que nada! Ou tu fica sem a roupa ou a roupa sem tu fica, isto sim...” Grande pensadora!

Sem contar que é uma cozinheira de mão cheia. Sempre fico com saudades de comer da sua comida. Nesses dias em que passamos juntos, fui feliz. Mostrou toda sua criatividade. Como isto é possível: carne de anteontem virar picadinho de ontem e ensopado de hoje? E tive até leitinho quente na hora de dormir...

A sogra se revelou uma pessoa muito conveniente. Descobriu que meu vizinho do lado direito, aquele chato de galocha, que se exibia com seu carro importado, todo dia, em frente ao meu portão, estava cultivando chifres na sua careca. Sua mulher era amante daquele amigo de negócios, o qual facilitou a compra do carrão: o Negão da concessionária. Agora, podia olhar para ele e dizer bom dia com meu melhor sorriso, mesmo (como era do seu costume) que fingisse não me ver e ouvir.

Como ela soube? Bem, ficou amiga da vizinha do lado esquerdo, dona Fifi.

E tem mais, minha esposa, nessa temporada, tornou-se outra mulher. Falando sempre baixo; limitando-se a leitura daquele livro que há tanto tinha se proposto a ler, mas esquecia de lado, e até terminou de assistir ao filme que, volte e meia, pausava e perdia a vontade de finalizá-lo: “Um dia de cão”; estava fazendo horas extras no trabalho; dedicando-se mais ao seu jardim... Olha, pensando bem, pouco me lembro dela durante esse tempo... Vem-me à memória, agora que toquei no assunto, apenas um momento, do qual tive a impressão de que vi minha mulher tentando enforcar o pano de prato, depois que a mamãe (Ah, minha mãe era a sogra, esqueci de relatar...) comentou que resolvera passar o resto do mês em nossa companhia...

Mas continuando... Adoro sogras. Nunca tive problemas com nenhuma delas! Falando nisso... já disse que minha esposa é órfão?