a arte de debulhar milho

Infância no sítio. É impossível acordar tarde. O galo cantando. O cheiro de café. O chiado do radinho ao fundo ou a viola chorando suas mágoas. Aparentemente tudo na mais perfeita harmonia.

Mas já que tenho que direcionar a crônica, peguemos o caminho do milharal. Escolhe-se a melhor espiga. Depois de debulhada, vira sabugo. Sendo esperto, ainda pode transformar-se em rolha de alguma garrafa de bebida. Nada se perde, tudo se metamorfoseia.

A arte de debulhar milho consiste no seguinte: deve-se evitar ao máximo a perda de um grão sequer. É com o tempo que se pega o molejo na mão. Vocês já devem ter ouvido a expressão: jogar pérolas aos porcos. Aqui jogaremos milho às galinhas. Eu prefiro essa metáfora à outra. Podem questionar a condição dessa última construção sintática como sendo uma metáfora. Estão no direito. Contudo, entretanto, porém afirmo que o equívoco vem da parte de lá. Claro, explicarei. Jogar pérolas aos porcos significa, numa de suas interpretações, ensinar muito a quem não quer ou não aprende nada. Jogar milho às galinhas é mais forte. Mais produtiva. É uma metáfora dependente de outros fatores. Não se esclarece apenas em si. Necessita da arte de debulhar milho. Perdoem a comparação, mas acho que a de cima já foi pior. Estou pensando em educação. Está o professor com a espiga na mão. Apostos, no terreiro, seres sedentos. O professor deve ter o molejo. Não se deve jogar muitas pepitas de ouro para um único ser. Ou para um bando. Exige-se saber dosar. Uma parte da arte de debulhar milho se configura desse modo. Surge então a pergunta: o que sobra para o professor? Alguns questionarão: o sabugo. O professor esgota o que sabe. Sua fortuna troca de mãos. Outro equívoco. Com todos os alunos bem satisfeitos, não sobrará o sabugo na mão do professor. E sim uma espécie de cortiça.

Como isso se dá? É simples. Na vida sempre necessitamos de um feedback. Um professor inexperiente ou cainha nunca acertará na dosagem. Evitará ao máximo cometer um erro, um equívoco. Acabará cometendo o pior de todos. Em suas mãos se deparará com um sabugo. Será esse seu feedback.

O grande professor, por seu lado, ficará espantado. O suposto “sabugo” que se encontra em sua mão também será cobiçado.

A arte de debulhar milho nunca se fecha. É como se fosse um espiral. E por falar em espiral... Acabei de revelar o molejo que se deve ter nas mãos. Então, professores, abandonem o “pavonismo” e a arte de jogar pérolas aos porcos. Não há como fugir da natureza. Nosso próprio DNA é espiral!

jeferson bandeira
Enviado por jeferson bandeira em 04/08/2008
Reeditado em 04/08/2010
Código do texto: T1112099
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