Os otimistas vivem mais

Há algum tempo li uma matéria numa revista especializada que trazia o seguinte título: “Pesquisa aponta que otimistas vivem mais do que pessimistas”. Para esotéricos e religiosos, que normalmente se pautam em questões metafísicas para lidar com a realidade, não há novidade na afirmação contida no título da reportagem. O inusitado é o assunto ter sido abordado pela ótica da ciência, mais precisamente da medicina convencional.

O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, envolveu nada menos do que sete mil adultos, analisados por quase cinqüenta anos, desde quando eram jovens, em 1960. A conclusão dos cientistas norte-americanos foi taxativa: os otimistas têm uma vida mais saudável do que os pessimistas e podem viver mais do que estes últimos, que costumam ter um ponto de vista mais obscuro do futuro.

Os resultados da pesquisa, que repetem os dados de outros estudos em fatores de personalidade e saúde, mostraram ainda que, em média, os mais pessimistas tinham 42% mais chance de morrer do que os com posturas mais positivas na vida. Uma das explicações que seus autores deram para isso é que os otimistas têm menos chance de sofrer de depressão do que os pessimistas, o que poderia afetar a sua saúde física. Eles também mantêm um estilo de vida mais saudável, cuidando de sua dieta e fazendo exercícios.

Os médicos que acompanharam os voluntários da pesquisa disseram que, em geral, otimistas acreditam que eventos negativos são apenas temporários e não os deixam afetar sua atitude sobre eles mesmos e o mundo. Pessimistas, ao contrário, guardam os eventos e se culpam pelo ocorrido.

Conhecido no cenário musical brasileiro como um maluco de carteirinha, o cantor e compositor tropicalista Tom Zé é muitíssimo mais lúcido do que muitos pensam. Olha só o que meu conterrâneo baiano disse certa vez numa entrevista: “(...) Parece que a nação vive até um momento otimista. O que há é um pessimismo profissional. O Brasil tem duas televisões: uma às 6h30min, otimista, que mostra o povo plantando café, resolvendo problemas na lavoura, canalizando água. A gente assiste e fica carregado de vontade de trabalhar, inflado de alegria e esperança. Mas às 11 horas acordam os especuladores, os financistas, os golpistas brasileiros e de todas as nações (...)”.

Tom Zé, que viveu anos no ostracismo da grande mídia e teve muitos motivos para ser pessimista, não pensa como um. Ao contrário, é certeiro ao dizer que pessimistas mesmo são os que vivem para confabular a queda de algum governo, de alguma bolsa; aqueles que acreditam de verdade que são as guerras que fazem correr dinheiro. Ele está certíssimo!

Não sei se esta é a pior época na história da humanidade. O que sei é que nunca haverá um período que seja tão propício para alguém ser otimista com a vida em sociedade. Acho que vamos todos morrer ouvindo falar em crises políticas e econômicas; em macro e micro guerras; em inflação e elevação do custo de vida. Quem quiser que deixe para sair em busca da própria realização depois que as crises passarem.

O verdadeiro otimismo está em tocar a vida adiante, fazendo o melhor que se pode em pleno cotidiano, em meio à rotina. Não é nos grandiosos planos de um futuro melhor que reside a felicidade de um otimista, e sim na relação com a realidade que o cerca: as pessoas que o amam, o seu lar, o seu trabalho, as alegrias corriqueiras.