Os “santinhos” estão soltos
Se alguém puder me ajudar a responder uma dúvida crucial, por favor leia o que segue e me dê algum retorno com os devidos esclarecimentos, se estes forem possíveis... Lido há algum tempo com o universo das palavras, com sua força e significados, e até hoje não consigo uma explicação razoável para a designação de “santinhos” dada aos impressos usados por candidatos a cargos públicos, normalmente com tamanhos 10x15 e estampando suas fotos, números e slogans de campanha.
Na falta de alguma justificativa plausível (que não aquela associada aos impressos de missa de sétimo dia), ocorre-me a suposição de que a invenção tenha partido de algum gozador de plantão. Afinal, nunca vi tamanha ironia, para não dizer sacrilégio! Derrubando qualquer lógica e deixando a Igreja Católica em maus lençóis, o certo é que os “santinhos” (com aspas mesmo) estão soltos nas ruas e, logo, logo até “animados” na TV e na internet.
Com caras, cores, números e siglas diferentes, a todo momento me chega um às mãos. É “santinho” de barba, “santinho” de cara limpa, “santinha” de batom; uns carrancudos, outros estampando sorriso amarelo e outros tantos posando de artistas. Daria até para acreditar que abriram as portas do céu se o período não fosse eleitoral e se a temporada não fosse de caça aos votos.
Num filme bíblico ou num livro de realismo fantástico seria perfeitamente normal que baixasse à Terra uma legião de santinhos (sem aspas) para colocar ordem no caos que aqui reina e dar à vida dos pobres mortais um roteiro de harmonia e prosperidade. Consciente do tamanho devaneio que permeia esta ficção, vejo-me com, pelo menos, uma dezena de “santinhos” às mãos. Então, pergunto-me se estes também não poderiam pôr em prática algumas atitudes simples de homens-com-pureza-de-santo. Não sei se por pessimismo ou realismo, mas não me convenço desta possibilidade.
Normalmente tomado por uma polidez diplomática, espero se afastar o garoto que me entregou o “santinho”, ou o próprio “santinho”, faço uma bolinha de papel amassado, miro a lixeira mais próxima e... cesta!!! Lá se foi o nono ou o décimo deles para o lugar mais conveniente.
Voltando à minha questão inicial, continuo achando uma baita gozação a designação da palavra santinho para o retrato-propaganda dos candidatos. Mesmo para aqueles que não acreditam em santos, a equivalência é bastante desencontrada, uma vez que santidade é algo próximo de sentimentos e identidades nobres. Longe de mim afirmar que não haja pessoas entre os “santinhos” do lado de cá que se aproximem disso. O que eu e milhões de outros eleitores sabemos é que encontrá-las continua mais difícil do que dar de cara na esquina com um elefante cor-de-rosa.
Ok, tudo bem, reconheço que peguei pesado nessa comparação. Por isso vou refazê-la para não cometer injustiças. O que eu e milhões de outros eleitores sabemos é que encontrá-las continua mais difícil do que dar de cara na esquina com um elefante.
Enquanto espero que alguém me mande alguma explicação que consiga acabar com a minha dúvida já externada, proponho que exploremos mais a língua portuguesa, tão vasta, tão cheia de sinônimos. Proponho que consigamos outros nomes para os retratos-propaganda dos candidatos, além de santinhos. Algo como honestinhos ou corretinhos ou seriozinhos... As aspas são opcionais.