Semana Santa na Matriz

Sexta-feira Santa, na Matriz do Divino Espírito Santo! A igreja era pequenina, mas a praça era enorme. O palanque fora ali armado e o cenário todo arrumado de acordo com as escrituras sagradas. Três cruzes, sendo que a do centro sustentava a imagem de Jesus. Ao lado, nas escadas, dois apóstolos ficavam de prontidão para ajudar na cerimônia.

Uma imensa multidão aguardava o Sermão do Descimento da Cruz para o qual era escolhido sempre um padre mais eloqüente. A praça parecia um mar humano, e o respeito era muito grande. As pessoas conversavam baixinho. É certo que havia vendedor de pipoca, de cartucho, de maçã do amor, de água mineral etc.

A Luzia, eu e o Fernando, que tinha lá seus seis aninhos, todos de roupa nova, chegamos à Praça e, com jeitinho, arrumamos um lugar de onde pudéssemos ver a cerimônia. Nosso irmão é que não via nada, mas também não reclamava.

Começou o sermão, pungente e demorado. Aos poucos foi acontecendo o descimento da imagem, tarefa que os apóstolos exerciam com a maior devoção. A multidão compenetrada acompanhava toda a encenação. Acho até que nem piscava. E o Fernando nada via do que acontecia. Será que ele descrentou? Só sei que um pum soltou. E foi daqueles de desmanchar roda. Mas sexta-feira santa é dia de penitência e todo mundo ficou firme. Só ouvimos as duas mulheres, que estavam atrás de nós, clinicarem:

- Cruz Credo! Nossa!

- Vixche Maria! Esse, amanhã, tem que tomar purgante!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 09/02/2006
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