A goiabeira da infância

O relógio anunciou nove horas e meia. No Instituto Vivian, reinavam a tranquilidade e o silêncio, momentos raros, numa escola maternal. Onde tem criança tem barulho, movimento, vozes! É que os alunos chegaram do recreio e aqueles rostinhos, suados e avermelhados, precisavam descansar. Dez minutos seriam suficientes para que tudo voltasse ao normal. Em dez minutos, porém, quanta coisa poderia acontecer!

Janet Vivian dava os toques finais em seu planejamento semanal, quando a campainha tocou. Um belo rapaz apresentou-se. Já morara naquela casa, quando criança e seu desejo se manifestou muito forte em rever uma grande goiabeira, que ficava num dos cantos do quintal. Foi-lhe dada carta branca para entrar, rever cada cantinho da casa, do quintal. Mas seu pensamento estava só na goiabeira e para ela se direcionou, sem delongas. Janet Vivian preferiu não acompanhá-lo, deixando-o mais à vontade naquele ambiente que lhe pertencera.

O tempo foi passando e, percebendo uma certa demora do rapaz em retornar, Janet Vivian resolveu olhar pela janela. A cena que presenciou a deixou deveras deslumbrada! Com um misto de compaixão e admiração viu o moço abraçado ao tronco da árvore e, igual a uma criança, ele soluçava convulsivamente, o que era percebido pelo trêmulo movimento dos seus ombros.

Janet Vivian se afastou e deixou que ele se extravasasse. Que sentimento forte e bonito unia aquelas duas “criaturas” ? José Mauro de Vasconcelos teria ali outro Zezé, que, ao invés de conversar com o pé de laranja lima, chorava nos “ombros” de sua velha amiga goiabeira.

Depois de algum tempo, chega o rapaz, para lhe agradecer, com os olhos vermelhos, mas com o coração aliviado por rever sua “companheira de infância”.

Parecia que ele fora despedir-se da goiabeira... Também da vida se despediu, naquela mesma semana!

Publicada no Jornal Agora de 13 de junho de 2010.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 08/02/2006
Reeditado em 17/07/2010
Código do texto: T109325
Classificação de conteúdo: seguro