JK e Meu Pai

Os habitantes de Divinópolis, assim que receberam a empolgante notícia da visita do Governador de Minas, Juscelino Kubitscheck, mobilizaram-se para organizar os preparativos de uma principesca recepção.

A data certa... Não me lembro bem. Presumo ter sido em 1951 ou 1952. O que tenho de forte recordação é que Luzia, a primogênita lá de casa, e eu estudávamos no Grupo Escolar “Dª Antônia Valadares”, que funcionava no prédio onde hoje se instala o Museu Histórico, na Praça D.Cristiano.

Todos os dias ensaiava-se “O Peixe Vivo”. A música seria cantada por todos os alunos das escolas primárias de Divinópolis, na Avenida Primeiro de Junho, quando por ela desfilasse o querido Governador seresteiro.

Naquele tempo, as pessoas conversavam pouco sobre política, por isso não entendíamos bem o que essa visita significava para nós. Mas a professora habilmente nos motivou, ficamos empolgados em receber o Governador com a música de sua preferência.

Finalmente o dia tão badalado chegou. Foi decretado feriado na cidade para que o povo pudesse esperar o Governador. O trânsito – pequeno na época – estava interrompido desde cedo.

Meu pai nunca foi muito ligado em política, aproveitou o dia para visitar o meu avô que morava no Porto Velho. Naqueles tempos de poucos carros, as bicicletas é que cortavam a cidade, encurtando as distâncias. José Vilela vestiu o terno costumeiro, pegou a bicicleta, saiu de manhazinha, foi passar algumas horas com seu pai.

A criançada de uniforme azul e branco compareceu bem cedo à Avenida Primeiro de Junho. Formamos um cordão humano de cada lado da avenida e ganhamos bandeirolas brancas. Aguardávamos um sinal para agitá-las e cantar “O Peixe Vivo”.

Sabe-se que políticos costumam se atrasar para os eventos, como também é sabido o irrequieto jeito de esperar da meninada que por pouco fica impaciente. Sol quente, a sede chegou. A professora tentava acalmar-nos. De repente, surgiu um zum-zum, o Governador estava já próximo. Tomamos a postura de sentido com as bandeirolas para o alto, preparados para o canto.

Pronto! Já está chegando, alguém falou. E foi aquela beleza! As bandeiras tremulavam no ar. E todo mundo cantava a plenos pulmões “O Peixe Vivo”. E eis que passa de bicicleta meu pai, José Vilela Fonseca, com toda a humildade, já de volta do passeio, os guardas de trânsito não perceberam sua entrada na Avenida. Acho que ele nunca viveu um momento tão triunfal!

Publicado no Jornal Agora de 08/08/2010

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 08/02/2006
Reeditado em 13/08/2010
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