por que (não) ser delicado?
Lendo o livro de crônicas Tempo de Delicadeza, de Affonso Romano de Sant’Anna, comecei a me questionar sobre a negatividade com que estamos carregando o termo “delicado”. Nessa onda de onde havia 2 agora existem 3: masculino, feminino e o “intermediário”, o grande lance é ser bruto. Para não causar dúvidas. Mas as mulheres que admiram os metrossexuais?
Falando-se em bruto, este é o título do livro de estréia de Thedy Corrêa, vocalista e compositor da banda Nenhum de Nós. Como quase sempre estamos “equivocados”, engana-se quem pensa que o livro trata de brutalidade. Está em jogo o outro viés da palavra. Segundo o próprio autor “estes escritos estão em seu estado bruto, sem lapidar demais, reescrever. Muitas vezes é a própria emoção em estado bruto. Sem máscara alguma”. Um mix de “esperanças e desventuras, sonhos e aflições”.
Equívocos. Equívocos. Equívocos. Brindem a criação de mais uma muleta. Inocentes assassinados quase todos os dias... Infelizmente eles se equivocaram... Isso quando alguém resolve falar. Uma ação vale mais que mil palavras. Falam e falam em controle de violência. Está mais um corpo estendido no chão... Estendido no carro. É, a metáfora se comprova. E poeta foi aos jardins do Éden... Mas quem tem coragem de ouvir...
Mesmo com títulos totalmente diversos, dispensando é claro o caráter dúbio de ambos adjetivos, parece que seguem na (a) mesma linha. Uma preocupação com a falta de afeto entre as pessoas.
Affonso Romano já presenteou seus leitores com um livro forte de poemas chamado Vestígios, uma preocupação com os caminhos da humanidade, para onde tudo aponta. Thedy Corrêa com a música Jornais, entre outras, em que os versos são mais ricos que qualquer crítica: “As pessoas que se enrolam nos jornais não são mais notícia / Elas não esperam de um papel de duas cores mais que um pouco de calor / A calçada não é pai / Não é mãe / Não é nada / Nada mais do que um abrigo, um refúgio / Tão estranho pra quem passa... Pra quem passa”.
Nesse tempo em que ser delicado é coisa de “fruta”, sejamos cruelmente delicados. As aparências enganam. As aparências... Quantos cruéis delicados não temos, não é?