Eu te Amo
Hoje em dia - para fugir do clichê - é tão banal dizer EU TE AMO. Acende-se um cigarro. Eu te amo. Abre-se uma cerveja. Eu te amo. Abre-se o zíper. Eu te amo. Ejacula-se. Eu te amo. Puxa o rolo de papel. Eu te amo. Topa-se num ônibus lotado. Eu te amo.
Esses dias eu estava pensando em uma música da Legião Urbana – que também virou banal. Vamos fazer um filme? Maravilhosa por sinal. Lá pelo final da música Renato Russo questiona-se: “E hoje em dia como é que se diz eu te amo?”. É claro que ele não esperava por isso. Será que desaprendemos a dizer EU TE AMO?
Tô mandando um recado pra vizinha e pra vovó... To ficando atoladinha, tô ficando atoladinha...Como é que se diz eu te amo? Não sei direito o motivo, mas me bateu um saudosismo de José Paulo Paes: “meu amor é puro Dora, como a água e o pão, como o céu refletido nas pupilas de um cão”; de Manuel Bandeira: “inventei, por exemplo, o verbo teadorar. Intransitivo: Teadoro, Teodora”. Mas aí estão as éguas, as cachorras... As bundas. Nádegas a declarar. Mulheres melancia, morango... Sorte que temos uma Rita Lee, uma Zélia Duncan: “nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda, meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem”.
Salvemos o Eu Te Amo, já que ele parece que não nos salva mais.