A Cobrinha Verde
A Cobrinha Verde
Quando meu pai vendeu a casa da Rua Rio Grande do Sul, fomos morar na Fazenda do Pontal, de meus avós maternos, Vovó Maria Teles e Vovô Cesarinho.
Como era grande a Fazenda do Pontal!
Bem cedo, começava o movimento na casa. Lembro-me de meu avô, fazendo o café no fogão a lenha, de minha avó dando milho para as galinhas, cuidando dos porcos e da horta...
Quando meu avô se dirigia ao curral, com sua longa capa preta, Luzia e eu pegávamos, depressa, nossa canequinha esmaltada e ficávamos à espera para tomar o leite espumoso e quentinho, tirado na hora de uma saudável vaca preta.
E tínhamos o dia inteiro para brincar, correr pelo pomar e, em companhia da Chica, que morava com minha avó, andar pelos campos, à procura de frutinhas silvestres: araticunzinho, mama-cadela, cu-de-pinto, murici...
Dava até para brincar na bica d’água que havia na porta da cozinha. Uma água clarinha, que corria noite e dia!
O pomar me atraía, talvez pela grande variedade de árvores frutíferas. De acordo com a época, ora tínhamos mangas, ora laranjas, goiabas, jambos, jabuticabas, pitangas... Conhecia todas as árvores e procurava ser mais esperta que os miquinhos e passarinhos. Mas eles sempre se fartavam a valer.
Um dia, com meus quatro aninhos, saí sozinha em direção ao pomar. Época de goiabas, eu já sabia onde encontrar as mais bonitas. A goiabeira não era alta e eu consegui subir até as grimpas. Estava tranqüilamente saboreando a fruta, quando ouvi um barulhinho em cima de minha cabeça. Deparei-me com uma cobrinha verde, toda enroscada no galho, bem perto de meus cabelos e que me olhava com olhinhos fixos, mostrando sua linguinha vermelha bifurcada, mexendo-a, rapidinho, para um lado e para o outro. Quase morri de susto! Com o coração batendo, disparadamente, não sei como desci de lá, mas, em poucos segundos, já me encontrava dentro de casa, tremendo feito vara verde.