Fugir com o circo.

Ao som do tango bebo minhas angustias e afogo minha razão dentro de qualquer Bourbon que preste, morte sem requinte não é para mim. Sigo meus passos e danço atropelando as notas que ressonam no palco que acabo de subir e tomar a cena. Dia a dia, tango a tango, vario no soul e aceito de ótimo agrado um bom blues e gostaria sim um jazz tocando em minhas voltas sem rumo para o mesmo lugar de sempre, minha casa. No teatro vejo as luzes, outro palco que me chama, acende o brilho dos meus olhos, a arte e a bailarina, o circo e a liberdade, o preço já pago e as notas em dia de toda consciência versus toda decência e moral ancorada em provérbios populares fúteis e sem sentido amarrados aos meus calcanhares. Hoje entendo a expressão fugir com o circo, sim, compreendo e penso, quando largo tudo e vou atrás do circo. O que impede cada ser, a falta de habilidade, não saber fazer as pessoas sorrirem, a magia de toda mágica, o encanto com animais, a platéia da vida, seguir sem destino em busca de lugares e pessoas não vistas, sem sentido e rumo, mas com sentido e consentido por todos sentidos. Sim, o circo, o palhaço, e sim, a bailarina, e eu, um homem comum que vê as cores nítidas do circo brilharem em minhas pupilas como se ainda fosse criança e agora, com todo querer de adulto a voltar a este tempo. Percebo que toda a habilidade, encanto e magia são pequenas coisas adquiridas por estas pessoas que almejaram algo maior dentro de si, a liberdade de se ser quem realmente são, e andar para o restante do mundo. Querem me ver, que venham, aplaudam, ou apenas vão, estou aqui, farei meu show, com ou sem vocês. Sinto meu coração chamar a liberdade e quero novamente subir ao palco, quero saber que estou em meu show, em meu espetáculo, não importa onde ou para que platéia, mas saberei que minha magia esta firme em todo encanto que se preze. Toda mente que pensa aprende a saber que depois de perder a liberdade de criança e trocar o amor pelo pudor, se aprisiona em não valores vagos para despertar a fúria e a busca pela mesma liberdade após tantos anos, privilegio de quem consegue, digo e penso que seria como voltar a natureza após anos de confinamento dentro de uma jaula invertida de pensamentos impróprios, não meus, não seus, não se sabe de quem, espero minha vez, espero o circo passar, a bailarina dançar e meu tango tocar, dançarei, não sei exatamente quando, se a vida permitir, que seja nos palcos desta minha historia, para você, para mim, não importa, mas que a bailarina, o palhaço e todas as cores estejam em meu espetáculo, ao som que gostar, no tempo que eu regrar, e que o pudor se apague de meu coração e volte junto com toda liberdade, o que faz o circo viver, o amor.