Cap. XIII - A Pescaria

Rodrigo chegou a visitar a chácara umas duas vezes antes de partir para as negociações. Ele sempre gostou de lugares tranqüilos, sem muito barulho, e aquele sítio se mostrava como o ideal para passar os fins de semana, fugindo do grande barulho da capital mineira.

Muitas laranjeiras, bananeiras, abacateiros, cana-de-açúcar ... tudo o fazendeiro elencava e explicava. Quando chegaram perto do laguinho, antes que ele dissesse alguma coisa, Rodrigo foi logo perguntando se havia algum peixe ali. E a resposta veio na ponta da língua:

- Mês passado, coloquei aí sacos e mais sacos de tilápia que, em breve, já poderão ser pescadas! Eu vou até deixar, na casa, as minhas varinhas de anzol.

Negócio feito, compra efetuada e o laguinho ficou à espera de quem quisesse pescar.

Aprecio peixe assado ou grelhado, mas, para pescar, não contem comigo! Não sei e nem quero aprender. Minha experiência no ramo só aconteceu uma única vez, mas valeu para toda a vida.

Morava na fazenda de meus avós maternos e, junto com o bando de primos, sempre andava pelos matos, em companhia da Chica, uma boa senhora que fora criada pelos meus avós.

Um dia, a turma decidiu que queria pescar no córrego que passava perto da fazenda. Éramos uns sete, entre meninos e meninas, todos munidos com os anzóis e as minhocas. Descemos o morro na maior algazarra, naquela expectativa do que iria acontecer. Foi quando a Chica avisou que, na beira do “corgo”, devíamos ficar em silêncio para não espantar os peixinhos.

Daí a pouco, já ouvíamos aquele barulho das águas correndo entre as pedras. Escutávamos também algum passarinho cantando. Além desses barulhos, havia o de nossos pés descalços, pisando nas folhas secas da estradinha, que mais parecia uma trilha por onde passava o gado da fazenda.

Chegamos e, aos cochichos, fomos escolhendo o melhor lugar no barranco para sentar. Cada um com a sua varinha colocava a minhoca no anzol. Eu, por ser bem pequena, era só uma assistente. Com quatro anos, a tudo observava, quando a Chica quis me ensinar a pescar. Já me entregou a vara arrumada e disse para colocar o anzol dentro da água e só tirar, quando sentisse que a piabinha estivesse “puxando”. Sem entender bem, fiquei atenta. Assim ficamos todos naquela tensão. Quem seria o primeiro a pescar?

Aquele dia estava ruim para a pesca ou não escolhemos o lugar ideal. Um olhava para o outro e dizia baixinho:

- Aqui nem bilisca!

- Nem o meu, dizia o outro!

- “É assim memo, dizia a Chica. Tem qui tê pacença e ficá queto e caladinho!”

Era pedir muito para aquelas crianças, penso, eu, hoje!

Alguns resolveram trocar de lugar, apesar dos protestos da boa Chica.

- “Fica, queto, aqui, minino! Num fica andano na berada do barranco que é perigoso cair dentro do corgo!”

Daí a pouco sentia que “beliscava” e puxava meu anzol. É agora, pensei,. E puxei depressa a minha varinha. Lá veio ela, uma piabinha pequenina debatendo-se para se livrar do anzol. Eu fiquei olhando e, ao invés de ficar feliz, com meu sucesso, fiquei foi muito triste e apavorada, com pena daquele peixinho, tão pequenino ainda, saltando, querendo voltar para a água.

- Corre, Chica, solta o peixinho e joga na água, senão ele morre!

A prestimosa mulher, num instante, já devolvia a piabinha ao seu riacho. Que alívio!

E meu aprendizado aí se encerrou. A cena da piabinha, sacudindo-se desesperada para se soltar, está ainda hoje em minha memória. Adeus, anzol!

***

E no sítio do Rodrigo tem um laguinho que está cheio de tilápia!

Miguel e Malu resolveram testar os dotes de pescadores. Pegaram as varas, arrumaram as minhocas e dirigiram-se ao laguinho. Chegaram a pescar, mas, como eu, também ficaram com pena das pequenas tilápias e as devolveram para a água.

(continua)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 05/07/2008
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T1066644
Classificação de conteúdo: seguro