tecendo a teia
Fiquei fascinado um dia desses. Dava um passeio pelo jardim. Aproveitava o luar. De repente vi, por entre dois arbustos, uma aranha tecendo sua teia. Quanto trabalho. Que perfeição! Mais uma vez tive a noção de que a natureza é mágica. Divinal. Um bichinho daquele tamanho - e só - ter a capacidade de fazer verdadeira obra de arte. Trançados e pontos que a melhor das fiandeiras não atingiria. E há quem julgue aos outros. A aranha, aquele pequeno ser irracional. E aquela maravilha, aquela beleza frente aos nossos olhos.
E quanto duraria? Apenas um dia. Isso se o homem não se intrometesse. Na noite seguinte, lá estaria novamente.
Às vezes queremos as coisas e não nos esforçamos nada para alcançá-las. Não fazemos sequer um esforço pelo amor. Eu queria que a aranha pudesse me ensinar a ser um pouco mais como ela é. Queria ter o dom de estabelecer uma teia assim, como prova de amor. Queria ser o melhor de mim durante o dia, para que à noite minha teia estivesse pronta esperando por você. E que tudo durasse apenas aquela noite e eu tivesse que refazer tudo. Acredito que o amor é isso: renovação, superação, quebra do esperado. Queria ofertar, a cada dia, uma teia diferente. Queria conquistá-la me conquistando.
Se esse amor fosse aquele que tudo pode. Eu queria criar os mais finos acordes para exalar uma harmonia entre nós. Buscaria unir a revoada dos pássaros, o chiado da água descendo na cascata e o silêncio da noite caindo.
Se me fosse permitido habitar seus olhos, os levaria ao encontro dos meus para que pudesse perceber o brilho que há neles, quando seus passos se voltam em minha direção.
Se me fosse permitido habitar suas mãos, as levaria até meu rosto para que seus dedos corressem em meus lábios e transmitissem o desejo de tocar os seus.