BATIDA E CACHAÇA, CORAÇÃO E PAIXÃO
Bate o tambor, bate o coração, bate o papo e bate a cara contra a porta que volta e fecha. Bato o carro, a cara, bato no muro, no pau e no gato, bato palma e porta se abre. Abre os olhos da noite, da vida, da mulher amada, bom dia ou boa vida, rede e desafio, me deito e vou corrido faceiro atrás de todo prejuízo sem conta a deixar, e deixo por trás minhas pegadas apagadas. Quem disse que piso firme não desmancha, desfiz meu caminho andado com simples caminhar novo. Sou mandinga ruim, boa as vezes, cantada sozinha faz coisa, em povo na batida, muda tudo, some no mundaréu, vai em frente, e nem preocupo, as pegadas se apagam, e ai de quem tenta procurar, sumo no vento, junto com ele, me misturo a poeira que levantei, no chão e na cachaça. Troco nome e letra, embolo a mente e solto a poesia, sertão de pedra, jegue de roda, viro bicho, troco a moeda e sigo sem trocados, as palavras se ajeitam e vejo já cego a cor que mistura a batida no mel e na mente, bate de novo, o tambor que me acorda, volto dois passos, começo tudo outra vez, sigo e desarrumo o mundo, o cabelo, a roupa que nem tenho, sigo nu de moda e viola, canto as cordas que ainda tenho, bato o coração contra o mundo, carrego o compasso do sentimento belo, amor que gira força em engrenagem sem dente, mastigo meus versos e pensamentos, vou digerindo tudo, misturando, loucura por loucura, monto o projeto de minha pouca lucidez, vejo agora, o começo de mundaréu que plantei na caneca de cachaça que me emburriquei a encher de terra que andei, as pegadas se apagaram, mas o mundo que trouxe prosa a prosa, carreguei aqui, na caneca da cachaça, batendo e zoando quintal de quem não quis ouvir, entender, que a finalidade de tudo, era bater, a vida, o mundo, o tambor, acordar tudo, nem que seja, para ouvir o tocar do tambor, e sentir, que dentro, mesmo que do vazio, o bater se toca com poesia, e os olhos, se abrem em qualquer inverno, como flor em temporão, jabuticaba doce sozinha no pé, esperando, moleque travesso subir e levar, no roubo, dado não serve, fácil não vem, sem gosto e sem poesia, daí se entende tudo, sem o sentir, não se leva o compasso das batidas de um vivo e apaixonado coração.