Inacreditáveis, mas verídicos!
Qualquer pessoa que tenha nascido em uma cidade muito pequena sabe o quão surpreendente é o repertório de histórias e personagens inacreditáveis. Por morar tão longe da minha terra natal – Boa Nova-BA – procuro manter acesa a chama dos laços familiares, afetivos e culturais.
Em comum acordo com alguns conterrâneos, coordeno uma comunidade no Orkut chamada “Casos & Causos de Boa Nova”, que anda um pouco parada, mas que vale pelo que já foi postado. Trata-se de um espaço aberto a quem quiser eternizar histórias antigas ou recentes, envolvendo principalmente as figuras pitorescas da cidade. Numa passada rápida por lá apanhei dois casos postados por mim. Ambos inacreditáveis, mas verídicos.
O primeiro deles, ocorrido na segunda metade da década de 1970, conta a história de Julimar Carcará, um boanovense ainda bem vivo. Naquela época ir ao campo de futebol nas tardes de domingo era um programa cativo para boa parte da população. Sem gramado e arquibancada, o chamado “carecão” era cenário de campeonatos locais e regionais – uma diversão que envolvia até mesmo torcidas organizadas, com fanfarras e tudo. O “clássico” local na minha infância era Good New (o time dos veteranos) versus CNEC (o dos jovens estudantes secundaristas).
Muitos torcedores que iam ao campo não dispensavam o radinho de pilha para acompanhar os jogos de seus times em âmbito nacional. Era o caso de Carcará, que certo dia chegou ao local com o “pingômetro” transbordando. Numa mão ele levava o radinho para acompanhar o Fla-Flu no Maracanã, e na outra uma bomba caseira de alta potência para soltar quando o Flamengo fizesse um gol.
Tudo estava tranqüilo até que o Flamengo fez seu primeiro gol. O problema é que quase ao mesmo tempo o CNEC também marcou o seu ali no carecão. Gritaria geral, euforia, muitos abraços... Julimar àquela altura já não conseguia entender o que se passava ao seu redor. Não deu outra: estufou o peito, tomou ar, acendeu o bombão e gritou a todo pulmão: “goooooooooooollllllllll!!!”. Tudo teria ficado bem se ele não tivesse lançado o radinho de pilha a uns cinco metros e ficado com a bomba colada ao ouvido. Resultado: um filho de Deus que estava perto viu a tempo a troca involuntária e deu um tapa na mão de Carcará, que soltou a bomba a menos de um metro. O estouro foi grande, mas felizmente ficou só no susto.
A outra história tem como personagem um senhor chamado Dezinho Monteiro, que há muito tempo foi embora da cidade, o que me deixa sem saber se ele ainda é vivo ou não. Bem humorado e autocrítico, Dezinho conta que num belo dia de sol estava numa praça do Centro de Itabuna-BA, onde protagonizou um dos episódios mais surpreendentes de sua vida.
Sentado num banco, como outros tantos aposentados, ele foi surpreendido por uma belíssima loira de seus 30 e poucos anos, que não parava de fazer sinal em sua direção. Sem acreditar que uma mulher como aquela pudesse estar "dando bola" para um homem de mais de 70 anos, Dezinho Monteiro tentou checar, olhando para trás para saber se não havia algum jovem bonito para o qual a loira estivesse acenando. Não, era ele mesmo, insistiu a mulher, que se aproximou e perguntou, com voz melosa, se ele não gostaria de ir até sua casa.
Sem saber o que fazer, mas se permitindo vivenciar aquela aventura, ele aceitou, entrou no carro da mulher e seguiu para a casa dela. Lá chegando, a loira pediu que ele aguardasse na sala enquanto iria "arrumar as coisas" em seu quarto. Alguns minutos depois uma voz macia lhe chama: "moçooo, pode vir aqui em meu quarto?" Tremendo de excitação, Dezinho seguiu, abriu a porta e deu de cara com a seguinte cena: a mulher, sentada à cama, dando comida para o filho de 3 anos. Ela, muito brava, dirigiu-se ao menino: "se você não comer tudo eu mando o ‘véi’ te pegar!!! Você pega ele, não pega, véi???" Decepcionado, só restou ao pobre idoso dizer: "pego, né?!"