A Dançarina
(foto: Glorinha dançando)
para minha maravilhosa prima Glorinha Agne Monteiro
Ela tinha um sonho: ser dançarina. A vida, contudo, tem seus tropeços, e seu sonho foi para onde vão todos os sonhos desfeitos. Ao ver sua prima e melhor amiga no palco, seu coração saltava - mas não de inveja, porque era por demais verdadeira para negar aos outros aquilo que lhe fora negado.
E o tempo foi passando. Ela era, entretanto, uma guerreira, e seus filhos refletiram todas as suas vitórias como mãe e como mulher. Na dança complicada e dura da vida, ela foi mestra.
Mas algo lhe faltava: as luzes, as palmas, a emoção. Então ela sonhava enquanto trabalhava, enquanto lavava a louça, enquanto bordava.
Muitos anos mais tarde, os filhos já crescidos, ela desengavetou seu sonho e matriculou-se em uma escola de dança do ventre. A partir daí, dedicou-se com fervor a todos os ensaios, até que o grande dia de sua apresentação foi marcado. Seu coração deu um salto.
Noites adentro, cuidadosamente bordou seu traje de odalisca com contas e lantejoulas. Cobriu o branco dos cabelos de volta à cor natural. E sonhava enquanto lavava a louça, enquanto trabalhava, enquanto bordava.
Na noite de sua apresentação ela entrou, coberta pela burka das mulheres muçulmanas, com o som cadenciado fazendo eco ao pulsar de seu coração. A prima e melhor amiga, agora não mais dançarina, assistia na platéia.
E de repente seu véu caiu ao chão, e ela estava dançando! Mãos delicadas desenhando curvas no ar. A figura ainda bonita e esbelta ondulando ao som da música. As contas e lantejoulas, bordadas com tanto amor, cintilando às luzes coloridas da ribalta. Ela era menina outra vez!
Depois curvou-se, seus grandes olhos escuros iluminados de alegria, agradecendo os aplausos. Na platéia, sua prima também aplaudia. Mas não aplaudia a dança, as cores, o som. Aplaudia o sonho realizado. Aplaudia a tenacidade de um espírito indômito. Aplaudia a beleza sempiterna daquela mulher guerreira.
(foto: Glorinha dançando)
para minha maravilhosa prima Glorinha Agne Monteiro
Ela tinha um sonho: ser dançarina. A vida, contudo, tem seus tropeços, e seu sonho foi para onde vão todos os sonhos desfeitos. Ao ver sua prima e melhor amiga no palco, seu coração saltava - mas não de inveja, porque era por demais verdadeira para negar aos outros aquilo que lhe fora negado.
E o tempo foi passando. Ela era, entretanto, uma guerreira, e seus filhos refletiram todas as suas vitórias como mãe e como mulher. Na dança complicada e dura da vida, ela foi mestra.
Mas algo lhe faltava: as luzes, as palmas, a emoção. Então ela sonhava enquanto trabalhava, enquanto lavava a louça, enquanto bordava.
Muitos anos mais tarde, os filhos já crescidos, ela desengavetou seu sonho e matriculou-se em uma escola de dança do ventre. A partir daí, dedicou-se com fervor a todos os ensaios, até que o grande dia de sua apresentação foi marcado. Seu coração deu um salto.
Noites adentro, cuidadosamente bordou seu traje de odalisca com contas e lantejoulas. Cobriu o branco dos cabelos de volta à cor natural. E sonhava enquanto lavava a louça, enquanto trabalhava, enquanto bordava.
Na noite de sua apresentação ela entrou, coberta pela burka das mulheres muçulmanas, com o som cadenciado fazendo eco ao pulsar de seu coração. A prima e melhor amiga, agora não mais dançarina, assistia na platéia.
E de repente seu véu caiu ao chão, e ela estava dançando! Mãos delicadas desenhando curvas no ar. A figura ainda bonita e esbelta ondulando ao som da música. As contas e lantejoulas, bordadas com tanto amor, cintilando às luzes coloridas da ribalta. Ela era menina outra vez!
Depois curvou-se, seus grandes olhos escuros iluminados de alegria, agradecendo os aplausos. Na platéia, sua prima também aplaudia. Mas não aplaudia a dança, as cores, o som. Aplaudia o sonho realizado. Aplaudia a tenacidade de um espírito indômito. Aplaudia a beleza sempiterna daquela mulher guerreira.