O VELHO E O NOVO

O velho e o novo, uma discussão interessante: o que é melhor? Ser jovem e vislumbrar o horizonte longínquo, ou mais velho, em idade madura, com boa parte da vida já cumprida? Bem, é preciso estabelecer aqui algum parâmetro de idade, digamos, jovem de vinte e poucos e velho, sem ofensa, lá pelos 60 anos. Vamos dar como pressuposto que tanto um quanto outro desfrutem de boa saúde e de condições socioeconômicas adequadas. Claro, velho doente e pobre é o fim da picada; jovem saudável e bem-sucedido é tudo de bom. Dito assim, parece covardia, porque o apelo da beleza, da energia e da esperança não se irradia habitualmente do pólo da chamada “melhor idade”. Tanto que inventaram esta expressão mais animadora para a turma dos coroas. Mas não estamos no século passado: a ciência disponibilizou tantos recursos que às vezes dá medo de não se poder envelhecer em paz. Estamos todos, jovens e velhos, obrigados a ser bonitos, esbeltos, descolados. Em alguns casos, fica difícil distinguir a idade da pessoa, embora, sinto dizer, isto não seja a regra. Quando eu era piá, meus pais vestiam-se como pais, falavam como pais e pensavam como pais. Tinham 40 anos ou menos e eu os achava senhores – “os velhos”. A noção de respeito encerrava certo clima de solenidade: se houvesse fundo musical, seria uma valsa, talvez um bolero. As pessoas casavam só uma vez, tinham vários filhos, viajavam pouco e não comiam pizza. Coca-cola, só em dia de festa ou, então, nas férias de verão. Portanto, esta dúvida entre o novo e o velho não teria muita expressão naqueles tempos, já que a velhice começava mais cedo e, muitas vezes, era também mais curta. De qualquer modo, viver sempre foi uma boa idéia. Talvez daqui a alguns anos alguém escreva algo semelhante com relação ao tempo de hoje, é bem possível. Mas registro: não é tão ruim esta tal de terceira idade - quem sabe não seja apenas designação, mas uma verdadeira dimensão de tempo? Sem exageros, no entanto: a maldição do Conde Drácula é ficção, não é desafio; depois dos noventa, convém pegar mais leve.

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 28/05/2008
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