MEU REINO POR UM BANHEIRO (plagiando Shakespeare: Meu reino por um cavalo)

Quão inusitada possa parecer, mas é esta a realidade em que se encontram as praias do Rio de Janeiro. Não estou me referindo às de Búzios, Cabo Frio, Mangaratiba, Perequê... Cito aqui as praias do centro da Cidade Maravilhosa. É de um esforço tremendo o cidadão querer utilizar um banheiro para as suas necessidades mais elementares: urinar e defecar. A Prefeitura do Rio de Janeiro criou em cada Posto ao longo da orla, um prediozinho que nos induz à “fantasia de prefeitura” onde se encontram um banheiro feminino e um masculino. Ironicamente está la escrito “faça seu xixi aqui...”. Ademais, tem também um chuveiro, para casa sexo, destinado ao banho pós a água salgada do mar, e há ali um serviçal a cobrar o valor de R$ 1,00 (um real) por pessoa no uso daquele serviço. Não sei a quem pertence o prediozinho “prefeitura” e nem como está autorizado o serviçal cobrar o valor aqui mencionado, porém se for do governo municipal, o valor está muito caro. Caso ele seja da Associação Comercial, pior ainda, mas se for da Ama Leblon, é compreensível que isso ocorra por específicas razões e motivos.

Especialmente vou tratar de um dos lugares mais pitorescos que se possa imaginar existir na orla, é o Mirante Chácara do Céu. Dali se tem uma das vistas mais bela, principalmente ao amante da natureza livre, ao do infinito do mar que beija o céu e este se funde àquele majestosamente. Talvez este ponto no Leblon venha a concorrer com o Posto VI (assim mesmo, em romano fica mais charmoso), porque neste se vê a totalidade de Copacabana, mas naquele se detecta a dura realidade da nossa cruel, soberba e divisionista sociedade, pelo vislumbrar das favelas que estão logo ali a metro dos olhos; o escarpado dos morros rochosos; o alucinante precipício a mirar você pelos pés e o doce mar a lhe embevecer. Pois muito que bem. Tudo ocorreu foi no Mirante, dia 27-09-2009, quando me surpreendi com a grave situação de nossas praias, suas prefeiturinhas e seus banheiros de esvaziar a bexiga. Este problema é sério, de suma importância, já que estamos em plena campanha engendrada pelo Governo do Rio para ser o palco central das atenções na Copa do Mundo em 2014, assim como, desejando as Olimpíadas em 2016... Ao necessitar ir ao sanitário para mijar, marchei rumo ao único banheiro químico ali me aguardando, quando então, o catador de material reciclado me advertiu que o banheiro não estava funcionando (ali também custa um real o ato de urinar, sem que se tenha o serviçal da cobrança, mas a ficha é vendida no quiosque do Mirante), e o burro sem rabo continuou no seu informe; que ao introduzir a moeda a franquear a entrada, o artefato seria cuspido de volta sem abrir a porta – ainda bem! pensei. Retornei ao quiosque onde estavam meus familiares e decidimos ir à cata de um banheiro em outro lugar para se nos desbebermos. Quando então o dono do quiosque nos gritou dizendo que abriria o tal banheiro cuspidor de ficha, porém, surpreendentemente, rumou ao encontro do mictório com aquele enorme facão de cortar coco, tomado que estava decidido a arrombar a porta, sem qualquer prejulgamento pela presença dos turista a passearem por ali, e nesse exato momento um grupo de asiáticos vinha no mesmo caminho que íamos; todos nos olharam surpresos pelo estranhíssimo comportamento do homem e seu objeto agressor em punho. Abriu-se a porta com a afiada lâmina na lingueta da fechadura. Nesse momento, um de meus primos a estar ao meu lado, pediu para ser o primeiro a entrar no cubículo de aço com escaldantes graus; sem que demorasse um segundo dentro, pois de la ele saiu aos vômitos em decorrência do fétido cheiro a lhe sufocar e a revirar-lhe incontinentemente o bucho.

Com tamanho e inusitado atropelo acabou-se o nosso belo passeio naquela tarde de domingo de 27 de setembro, a 45 graus de temperatura, em uma das mais frequentadas praias do país, recebendo milhares de pessoas com um mega evento na cidade. Aqui vimos a falta de seriedade dos governos (municipal e estadual) ao tratar a coisa pública nada relevante. Também registramos a ausência da ONG Ama Leblon com a incumbência precípua de agente fiscalizador da área. O banheiro público é uma estrutura essencial nas grandes movimentações de massa, satisfazendo o turista e comprometendo-o com novos projetos de revisitação ao local. Divulgar a acolhida esperada é a praxe de quem economiza e escolhe o ponto turístico do seu agrado a se perpetuar em fotos, gravações, entrelaçar de amizades; doces lembranças. Não foi fácil agregar essa perspectiva por aquela tarde de passeio. A nossa expectativa era bem diferente.

Tá muito ruim para se ter um perfeito Rio 2014!

Acredito que é bom ir pensando num adeus 2016!