Bunda
Hoje fui despertado por uma chuva torrencial e ventos fortes. Lembrei dos inquilinos que chegaram ontem do Vale do Aço, ansiosos para curtirem uma praia. Ponderando, resolvi adicionar mais uma diária como ressarcimento. Eu não tenho controle sobre a natureza, mas, não custa nada recompensá-los; afinal de contas, a Santíssima Palavra afirma que é abençoando que seremos abençoados. Não esqueçam disso, pois é a tônica da vida.
Minha esposa comentou que os cachorros não devem gostar da chuva, porque ficam encarcerados no quartinho. Eles não são diferentes da gente, pois, também, me sinto enjaulado quando chove dessa forma. Só espero que, nessa hora, os poliqueixosos não esqueçam que, no momento em que a chuva cai, estão debaixo dos seus tetos, com chuveiro elétrico, água potável para beber, um computador para acessar e, quando o estômago roncar, podem ir até a geladeira e pegar uma fruta ou tomar um leite com chocolate, ou, quem sabe, colocar um pão de queijo na air fryer para assar. Imaginem a quantidade de pessoas que, nesse momento, devem estar debaixo das pontes, passando frio e desejando ter uma casa, uma cama macia e um cobertor quentinho para se refugiar do frio.
Entretanto, não esqueçamos que a chuva é uma bênção. Quantas pessoas clamaram a Deus para que ela acontecesse! Imagine a satisfação dos agricultores ao saberem que suas plantações estão sendo regadas por essa divina obra do Criador. Além disso, sabemos que a água é a principal fonte de vida do nosso planeta; sem ela, tudo isso seria impossível.
Antes de encerrar, gostaria de comentar sobre dois assuntos nesta crônica. O primeiro é sobre a escrita. Como sempre, ela nos surpreende. Quando fiz a penúltima crônica, cujo título é “Adeus para o Bidu”, pelo fato da situação dele ter sensibilizado muito a mim e à minha esposa, achei que o mesmo aconteceria com as outras pessoas. Confesso que fiquei um pouco frustrado, pois observei que poucas pessoas foram impactadas pela história. Entretanto, uma comentou que se sensibilizou muito com a história do Bidu e derramou lágrimas.
Já o outro texto que escrevi ontem, cujo título é “Abobrinha”, despretensiosamente e apenas para saciar a vontade de escrever, me surpreendeu com uma grande repercussão. De antemão, quero agradecer a todos pelos comentários, todavia, um em especial me chamou a atenção, do meu amigo escritor e recantista, cujo conteúdo é o seguinte: "Caro amigo, você é um cronista de mão cheia! Só tem um detalhe: no país abençoado por Deus e bonito por natureza, todo dia é dia de bunda! A majestosa bunda reina soberana sobre a gentalha! Brasil e bunda: tudo a ver! Parabéns e um grande abraço!" Saiba, meu amigo escritor, que, por sua causa, intitularei essa crônica de “Bunda”, rs. Não posso esquecer que as pessoas são multifacetadas, havendo uma imensidão de sentimentos que originam suas reações. Escrita, Escrita; não foi a primeira vez e nem será a última que você me surpreenderá.
O outro assunto, que não é muito agradável, e que quero deixar registrado aqui é sobre a mãe de uma inquilina e leitora. Que o Espírito Santo, nesse momento tão triste, console seu coração. Há um mês, ela entrou em contato perguntando se, no início da segunda dezena de outubro, teria vaga nas quitinetes. Falei que sim. Foi então que, hoje, justificando a sua falta, ela me disse que sua mãe havia tentado suicídio. Ficou um bom tempo internada; todavia, no dia sete de outubro, ela veio a falecer. Por um lado, me entristeço, porque o suicídio é um pecado gravíssimo resultando na condenação eterna. Por outro lado, me alegro, porque ela ficou um bom tempo no hospital e prefiro crer que houve tempo para se arrepender e pedir a Deus perdão por esse pecado.
A mãe dela estava com depressão. Nessas horas, as pessoas que cometem esses atos são ridicularizadas e marginalizadas pela sociedade, principalmente pelos mais próximos. Eu que o diga; sei muito bem o que é essa doença. Apesar de ser cristão, desde 1998 faço tratamento com um psiquiatra e tomo remédios controlados. Na época, alguns irmãos me condenavam, chegando a dizer que depressão é coisa do diabo, que eu estava dando brecha para o inimigo. Já comentei sobre a depressão em outros textos. Independentemente de você ser cristão ou não, rico ou pobre, preto ou branco, todos, sem exceção, podemos ser alcançados por ela. A Bíblia mesmo relata fatos de servos de Deus que, em algum momento de suas vidas, passaram por depressão. O profeta Elias, depois de desafiar os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas do poste-ídolo a oferecerem sacrifícios aos seus deuses no monte Carmelo, contemplando o poder de Deus e matando os oitocentos e cinquenta profetas, foge desesperado com medo da ameaça de Jezabel e clama a Deus por sua morte, além de andar quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte santo de Deus. Me digam, meus queridos leitores, se isso não é a atitude de uma pessoa, totalmente, deprimida. Essa história está registrada no livro de I Reis, capítulos 18 e 19.
Durante a depressão, um dos refúgios que eu usava era caminhar sem rumo. Um belo dia, deprimido, comecei a andar pela praia às 10h30. Quando percebi, já era 14h45 e eu tinha chegado na praia do Pau Fincado, a trinta quilômetros de Mucuri. É algo inexplicável; de repente, você perde o humor, a alegria, o brilho das cores, e parece que tudo fica cinzento. A única diferença da depressão na minha vida é que, nos momentos mais desesperadores, sempre me agarrei à Palavra de Deus. Ficava orando e recitando versículos, clamando pela proteção divina.
Infelizmente, nas pessoas que não têm Cristo, existe um vazio que somente é preenchido pelo Espírito Santo. Ontem mesmo, o pregador comentou sobre esse vazio na igreja, e ao ouvir isso, pensei no pensamento que fiz sobre ele: “No âmago de cada ser humano, eternamente existirá um vazio que insistentemente clamará pela presença do Criador.” Infelizmente, é nessa área que o diabo tem tirado proveito e ceifado muitas vidas.
Mais uma vez, quero expressar meus sentimentos a essa amiga, leitora e inquilina. Que o Senhor nosso Deus conforte seu coração. Por aqui, me despeço, meus amigos. Obrigado pela paciência em me ler.