EU VI A VILA SOCÓ QUEIMAR (Cubatao 40 anos depois)

Os anos da minha existência.

Ninguém melhor que eu, contará as historias que eu vivi.

Eu vivi pra ver o que outros tantos viram e como tantos, calei minha voz sem deixar de chorar por aqueles que choraram ali tão perto de mim.

Numa noite inesquecível, eu vi o inferno destruir vidas e sonhos, barracos e pertences acometidos de surpresa por uma tragédia que com as chamas ardentes, lambia tudo em sua volta causando destruição, choro e desgraça.

O ano era 1984. A Vila Socó ardia carbonizando corpos indefesos pelo vazamento de uma tubulação da Refinaria, ali na cidade de Cubatao São Paulo Brasil.

De onde estávamos, no nosso alojamento na via piacaguera Pátio de uma empresa transportadora próximo a Vila Parisi, avistavamos os clarões provocados pelas labaredas destruidoras, enquanto carros de bombeiros de várias empresas ao nosso redor, marchavam na esperança de poder minizar o angustiante sofrer que acontecera próximo da meia noite, despertando a todos nós que descansavamos após mais um exaustivo dia de labor.

Quantas vidas exatamente se foram? Os registros apontam nas suas anotações enquanto que outros números eram citados pelos que ali habitavam tendo a glória de sobreviver para lamentar suas perdas. Tantas e tantas perdas destruidas em pouco tempo sem que o relógio da vida pudesse cronometrar com exatidão esses tantos números de seres tragados pelo fogo devorador.

Não, ninguém melhor que eu para contar minhas histórias, pois essa foi uma delas que vivi e que hoje, 40 anos depois, do que aconteceu despertou-me o lembrar, ou melhor, o tão triste lembrar daquela noite inesquecível que marcou o viver de muitos que perderam suas familias, e o meu existir por ver tantos companheiros que trabalhavam conosco lamentando a triste sina.

Como vocês podem ver, tenho muitas histórias pra contar.

Carlos Silva

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 04/09/2024
Código do texto: T8144326
Classificação de conteúdo: seguro