"NATAIS... DE ANTIGAMENTE"
Corriam os preparativos para mais uma festa de final de um ano incerto;deveríamos estar entre 1977 ou 1978, não me recordo bem...
Em uma risonha tarde de sábado minha mãe Yvonne convidou-me para apreciar os enfeites natalinos que os vizinhos colocavam à porta de seus apartamentos, tencionando eles com tal conduta negacear com o Alto a concretização de seus desejos e aspirações.
Alguns desses adornos eram muitos vistosos ,outros nem tanto,mas mesmo assim o passeio foi válido, uma vez que nós duas percorremos um a um os oito andares do edifício onde eu morava e nada assim, passou despercebido ao nosso crivo.
Chegando em casa, encontramos papai sentado no sofá completamente absorto na audição de seu mais novo " Long Play". Ecoam em minha memória vivazes, a melodia, a letra e os acordes " Mulheres de Atenas" e " O que será" (à flor da terra) cantadas com rara mestria por Chico Buarque.
Receando atrapalhar a magia daquele momento conservei-me silente, até que a agulha deslizasse pelas outras faixas do disco. A expressão facial de meu pai (já falecido há doze anos e meio) Ramon A. Garcia acompanhava fielmente os compassos das canções ora fazendo-se triste,ora alegre. Ao término da reprodução musical meu pai Ramon Garcia emocionado me abraçou; tentando com este gesto de carinho estender seu amor a todos os corações aflitos das crianças vitimadas por aquelas atrocidades veladamente entoadas pelo intérprete naqueles versos denunciadores.
Galgo mais um degrau na escada do tempo. Os idos de 1979 chegam à minha mente aos borbotões. Estamos mais uma vez vivenciando a expectativa do nascimento do Menino Deus. Na sala de visitas da casa de meus avós maternos Eduardo Júlio Rocha e Maria José Ferraz Rocha (Maru) em São Carlos, o pinheirinho vindo do curtume Ponte Alta (também de propriedade de meus avós) vai ganhando ares de festa. Minha avó Maru tomada por um raro frenesi decora-o lindamente, e a casa toda abre suas portas à espera da chegada e também das bênçãos festivas e misericordiosas de Jesus.
A religiosidade perene e a fé inabalável eram as normas permissivas para que todos os ocupantes daquela casa pudessem devanear, inclusive os anciãos.
Lembro-me, ainda que as noites quentes de São Carlos permitiam-me que eu vestida de " Mamãe Noel" percorresse juntamente com meus pais Yvonne e Ramon os majestosos quarteirões da Avenida São Carlos, bem como a Rua General Osório em toda sua extensão. Os são-carlenses, sempre amáveis e gentis olhavam-me com ternura e sorriam-me com brandura... Era a netinha mais nova do Sr.Julio Rocha, vinda de São Paulo, a bonequinha viva a adornar àquelas ruas diziam algumas vozes doces de um passado inesquecível...
Toda vez que o traiçoeiro vento traz o aroma fugaz e inebriante dos pinheiros, ato contínuo meu rosto fica molhado por lágrimas furtivas e teimosas... Nesses instantes, a feição da mulher do presente contrasta frontalmente com o riso pueril e confiante da garotinha do passado, e nesta hora eu assim penso " então é Natal'!
* Desejo a tod@s Recantistas um excelente final de Natal e que as bênçãos de JESUS se estendam por todo ano vindouro...