Identificação 
(Uma reflexão Natalina)
 
Fátima Irene Pinto
 
Se me perguntarem com qual fase da vida de Jesus eu me identifico mais, com certeza terei alguma dificuldade em responder.
O Advento, ou seja, a chegada do Jesus Menino, faz-me voltar à infância.
Na manjedoura a humildade e na homenagem dos Magos vindos de tão longe (eram astrólogos e sabiam ler os sinais nos céus), a constatação de que, nascera naquele dia o mais poderoso Rei jamais nascido em toda a história da humanidade. Realidade insubmergível que resiste ao passar dos séculos e dividiu a história em antes e depois Dele. Isto não se discute.
Mas o Advento é também a lembrança dos momentos mais doces da minha infância, ao lado de meus pais e irmãos. As canções, as luzes, o colorido, o clima mágico de Natal.
Sempre fui eu a montar a árvore, desde pequena. Éramos pobres, então as nossas árvores eram sempre improvisadas, mas eu improvisava e nunca decepcionei. Minhas árvores ficavam lindas!
Depois fui crescendo e, além de montar a árvore, passei também a organizar nossas modestas reuniões natalinas. Depois saíamos para longas serestas com hinos natalinos que só terminavam ao amanhecer.Que tempo mais feliz, este! Um jeito inocente de curtir Jesus, sem muitas perguntas, sem muitos questionamentos, sem muito conhecimento, mas repleto de alegria!
 
Jesus o contador de histórias. Seus tres anos de pregação em parábolas, suas curas, sua colocações de extrema inteligência. Geralmente a gente vai buscar esta fase quando a vida começa a nos bater pesado e quando a nossa cruz (de palito de fósforo) começa a incomodar um pouco. Por alguma razão, eu sempre entendi as parábolas de Jesus. Talvez porque o amasse tanto, era-me fácil perceber o que Ele queria transmitir em cada história que narrava.
Tinha (e tenho) uma predileção especial pelo longo trecho compreendido nos capítulos 5, 6 e 7 de Mateus.
Muito mais tarde, li algo sobre Gandhi que, embora sendo de cultura totalmente diferente, disse o seguinte: quem lê o Sermão da Montanha e o compreende e o pratica, este já compreendeu toda a Verdade.
 
Jesus no momento extremo da Paixão.
Sim, Ele sentiu medo. Ele pediu a seu Pai que o livrasse daquele tão amargo cálice, todavia, mesmo suando o sangue do pavor, mesmo antevendo tudo que sucederia, ainda assim concluiu sua prece no horto das oliveiras dizendo: faça-se a sua vontade e não a minha!
Viveu seu martírio com extrema dignidade, própria de um Rei que, decididamente, não era deste mundo. No auge de seu sofrimento ainda encontrou forças para dizer: Pai, perdoa-os! Eles não sabem o que fazem!
 
Jesus Ressurrecto: exatamente como Ele havia dito a todos.
A primeira a vê-lo foi Maria de Magdala, a pecadora que havia lavado seus pés com perfume e enxugado com seus cabelos. Depois apareceu aos outros, inclusive a Tomé, o que duvidava.
Ressurgiu em toda a sua Glória e esplendor e voltou ao Pai, deixando o alimento de suas palavras que ecoam até hoje em nossos corações. Sim, alimento que nos mantêm de pé, que nos faz seguir em frente, que se faz farol quando nossa pequena embarcação se perde no mar encapelado da vida, que nos diz como agir quando não sabemos o que fazer ou que decisão tomar, que nos consola quando estamos agoniados.
Não é nada fácil, não. A nossa teimosia, as nossas fraquezas não se ombreiam ainda com a nossa pequena fé. Sentimos medo, até porque, os lobos vorazes estão soltos nestes tempos finais.
Eu diria que é um tempo realmente de oração e vigília.
 
Constato então que me identifico com todas as fases de Jesus.
Para mim, este poderia ser um tempo em que vivo um pouquinho da sua Paixão, debatendo-me com forte crise existencial, fortes dores, saúde delicada, declínio da matéria.
E no entanto, esvaziei minha cabeça e fiz-me criança. Percebo assim que é tão mais fácil encontrá-Lo!
Já não tenho ego ou vaidades. Já não tenho apegos materiais. E quanto mais me esvazio, mais Ele me preenche de um amor e de uma ternura inigualáveis e mais pertinho eu posso sentí-Lo!
 
Já não monto árvores de natal em sua homenagem, talvez por saber que a maior homenagem que eu posso prestar, é quando amo e compreendo o meu próximo, mesmo que seja muito diferente de mim. É quando sou a que serve, é quando sou útil. É quando digo com humildade: isto eu não sei, Jesus! Pode orientar-me?
É quando confesso: Jesus, acho que cometi um erro!
Pode ajudar-me a repará-lo?
Jesus, hoje eu estou com tantas dores: pode aliviar-me?
 
E assim, no transcorrer de um único dia, tudo acontece: o advento, as parábolas, a pregação, o martírio da paixão e a ressurreição gloriosa quando acordo, como que com as forças renovadas para mais um dia!
 
Tenho que admitir.
Jesus nunca se cansa de surpreender-me.
É um manancial perene de conhecimentos e revelações.
 
Para todos que têm vivências semelhantes, desejo um feliz e abençoado Natal.
Para os que ainda estão adormecidos, seja o nosso exemplo, a nossa vida, a nossa ternura, a nossa bondade, alguma coisa que faça a diferença e provoque um despertar.
 
Esta é a nossa reflexão para este Natal, com a confissão de um segredinho:
deixarei, como todos os anos, sapatinhos na janela, para quando meu Jesus Menino passar!
 
Descalvado (SP), 07/12/2010

Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 08/12/2010
Reeditado em 25/11/2012
Código do texto: T2659400
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