NAS SENDAS PROFÉTICAS E MISTERIOSAS DO ADVENTO NATALINO

(Publicada com autorização do autor: Prof. Antônio de Oliveira

www.caed.inf.br - aoliveira@caed.inf.br)

Advento, do latim e liturgicamente, o que há de vir, é a época de preparação para o Natal. Em suma, época de expectativa. Expectativa da estrela a guiar os Magos que lembra luzes. Expectativa de presentes, ouro, incenso e mirra, sob a forma altruísta (e atual) de pão, leite e ovos. Manjedoura, cocho, lembra comida. Pastores lembram trabalhadores... Belém (Beit Lechem, em hebraico) é casa do pão. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Advento. “Adveniat!” Venha a nós o vosso reino, assim na terra como no céu. Reino incoativo, portanto.

Gramaticalmente, verbo incoativo é aquele que exprime começo de uma ação ou de um estado de coisas: alvorar, alvorecer, amadurecer, anoitecer, florescer.

“O reino dos céus se aproxima.“ “O reino de Deus [já] está no meio de vós.” Para intuir essa realidade basta apreender a importância do serviço de um gari ou intuir a profundidade, em mística percepção, do sentido transcendente das coisas, à maneira de Charles Péguy ou do monge beneditino Dom Marcos Barbosa:

– “Varredor que varres a rua, tu varres o Reino do Deus."

Ah, os incríveis sentimentos de expectativa! Expectativa do casamento, expectativa da gravidez, expectativa do bebê que vai nascer; êxtase com o primeiro passo; desejo de passar no vestibular; ânsias por saber que a formatura está próxima; expectativa do sonho ao som da valsa, na formatura, no casamento, no ano-novo; desejoso de arranjar um bom emprego ou de ser bem sucedido no próprio negócio; esperança em dias melhores. Esperanças e medos. Medo do desconhecido, preocupação com as mudanças, com o começar de novo; ânsias por saber, por desvendar o porvir, por descobrir o que o futuro nos reserva. Medo de envelhecer. Medo de toda primeira vez. E, medo da última, como se fosse a última, na companhia da morte. Esperança e fé na ressurreição; na parusia, segunda vinda; na escatologia, consumação dos tempos e da história da salvação. Enquanto isso, o que conta, na expectativa (ou sem expectativa, para todos), é a virtude da caridade, do amor.

Viver os "dias de advento" sem vivê-los por antecipação, mas prelibando o Natal. Por gostar especialmente dessa época do ano, há quem enfeite a casa mais cedo para estar mais tempo em "estado natalino". Entendendo e estendendo a pedagogia profética da dinâmica de um novo advento “para enfeitar a noite do meu bem”, que bem pode ser “a paz de criança dormindo”.

Na verdade, esperar é apostar. Esperar é apostar em cada ano-novo. Esperar é querer “a rosa mais linda que houver e a primeira estrela que vier”. Esperar é sustentar-se na fé revitalizando as ações com amor, com o cor+ação. Esperar é investir em adventos, na “alegria de um barco voltando”. Esperar é abandonar-se a “flores se abrindo”. Esperar é querer “o amor, o amor mais profundo... e toda a beleza do mundo”, mesmo que o Natal demore a chegar. Esperar é prever que se vai ter que abrir mão em função de uma felicidade pessoal e solidária de bom tamanho. Esperar é confiar no rico e no pobre, na criança e no idoso, no iletrado e no letrado, no patrão e no operário, no professor e no estudante, no instrutor de dança e no aprendiz, ambos rodopiando na pista ou deslizando no gelo... Esperar é ser ecumênico, cosmopolita, universal. Esperar é soltar-se, sem medo de ser feliz, no embalo romântico do minueto da vida sem perder o equilíbrio nos movimentos do corpo de baile e da mente. Esperar é acreditar nas palavras de eterna sabedoria embutida nos adágios e sem a petulância de achar que tudo mudou. Na verdade (sabedoria bíblica do Eclesiastes): “Nihil sub Sole novum”, nada há novo debaixo do Sol. Esperar é dizer amém, assim foi, assim é, assim seja, assim será... sem perder jamais a ternura no olhar.

“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás!”

Esperar é poder dizer: quero ver você feliz, feliz. Feliz Natal!

(Deixo aqui o convite ao Prof. Antônio de Oliveira para participar como escritor do Recanto das Letras. )

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 12/12/2008
Reeditado em 12/12/2008
Código do texto: T1332341
Classificação de conteúdo: seguro